A FAMÍLIA

"É preciso fazer realmente todo o esforço possível, para que a família seja reconhecida como sociedade primordial e, em certo sentido, soberana. A sua soberania é indispensável para o bem da sociedade. Uma nação verdadeiramente soberana e espiritualmente forte é sempre composta por famílias fortes, cientes da sua vocação e da sua missão na história. A família está no centro de todos estes problemas e tarefas: relegá-la para um papel subalterno e secundário, excluindo-a da posição que lhe compete na sociedade, significa causar um grave dano ao autêntico crescimento do corpo social inteiro". (João Paulo II em “Carta às Famílias” / 2 de fevereiro de 1994)

31 julho 2012

Terapia do Perdão

PERDOAR E ESQUECER
Llúcia Pou Sabaté
Frequentemente, ouvimos falar: “Perdoo, mas não esqueço”. Na verdade, quem diz isto não perdoa, porque guarda rancor. Por isso é dito que não se perdoa de verdade quando, no fundo, não se está disposto a esquecer. Perdoar é esquecer? Ambos produzem o mesmo efeito? Trata-se de uma questão de grande importância, já que o perdão é essencial para uma vida feliz e equilibrada: “Aquele que é incapaz de perdoar é incapaz de amar” (Martin Luther King).
Parece-me que é preciso diferenciar “esquecer”, quando significa ressentimento, e esquecer como “desaparecer da memória”. Vou me referir ao primeiro sentido: é preciso esquecer, “não regateie o perdão: é impossível caminhar com tantas feridas abertas... perdoe todas as velhas feridas e as cicatrize com resinas de amor” (Zenaida Bacardí de Argamasilla). É não querer mal, não há outro caminho. “Perdão é uma palavra que não é nada, mas que carrega sementes de milagres” (Alejandro Casona), sementes semeadas em nossos corações pelo próprio Jesus, que se alimentam até mesmo das ofensas: cada ofensa recebida é uma oportunidade de melhorar nossa capacidade de perdoar, pois, em vez de causar ressentimentos, é estímulo para essa coisa divina chamada perdão.
O paraíso está do outro lado da porta, mas muitos perderam a chave que se chama misericórdia... Todos nós precisamos de amor, de atenção, assim como de poder dar nosso amor aos outros. Por isso, sempre se deve pedir perdão: pelas ocasiões perdidas, pela plenitude não vivida no convívio, pelas palavras não ditas.
Diz uma lenda árabe que dois amigos viajavam pelo deserto. Num determinado ponto da viagem discutiram e um deu uma bofetada no noutro. Este, profundamente ofendido, sem dizer nada, escreveu na areia: “Hoje o meu melhor amigo me deu uma bofetada no rosto”. Continuaram o trajeto e entreviram um oásis. Mortos de sede, ambos correram e o primeiro que chegou se atirou na água sem pensar e, em seguida, começou a se afogar. O outro amigo se atirou na água para salvá-lo. Assim que melhorou, pegou uma faca e escreveu em uma pedra: “Hoje o meu melhor amigo salvou a minha vida.” Intrigado, o amigo perguntou: “Por que, depois de eu ter te feito mal, escreveste na areia e agora escreves em uma pedra?” Sorrindo, o outro respondeu a ele:
“Quando um grande amigo nos ofende, devemos escrever a ofensa na areia, porque o vento do esquecimento a leva; por outro lado, quando nos faz algo notável, devemos gravá-lo na pedra da memória do coração, onde nenhum vento do mundo poderá apagá-lo”. O erro de muitos é pensar que o perdão deve surgir de seus corações, que é algo que devemos sentir, que deve, de certa forma, “nascer em nós”. Mas o perdão é uma decisão, não um sentimento, porque quando perdoamos não sentimos mais a ofensa, não sentimos mais o rancor.
“Perdoa, que perdoando terás a tua alma em paz e a terá quem te ofendeu” (Madre Teresa de Calcutá).
O perdão é o melhor, não apenas individualmente, mas também para cada sociedade e para o mundo em geral: “À espiral da violência somente arrefece o milagre do perdão” (João Paulo II). De certa forma, todos somos corresponsáveis pelas ações e omissões de cada um, e é a gotinha de cada dia que cria a revolução do amor: “O melhor que podes dar ao teu inimigo é o perdão; a um adversário, tolerância; a um filho, bom exemplo; ao teu pai, deferência; a tua mãe, uma conduta da qual ela sinta orgulho; a ti mesmo, respeito; a todos os homens, caridade” (John Balfour).
Quando alguém é perdoado transforma-se em uma pessoa diferente, ainda que demore a reagir: “Nada encoraja tanto o pecador como o perdão” (William Shakespeare). Isso ocorre porque se sente querido, e muito valorizado, porque as pessoas sempre estão acima dos seus erros (Jutta Burggraf). E, quando cresce a consciência do seu valor, comporta-se melhor. Por outro lado, cresce também quem perdoa, pois “nada nos assemelha tanto a Deus como estarmos sempre dispostos a perdoar” (São João Crisóstomo)”.
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Transcrito do site PORTAL DAFAMÍLIA
Ilustração: Do mesmo site
Fonte: Almas
Tradução: Eduardo Gama

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