A FAMÍLIA

"É preciso fazer realmente todo o esforço possível, para que a família seja reconhecida como sociedade primordial e, em certo sentido, soberana. A sua soberania é indispensável para o bem da sociedade. Uma nação verdadeiramente soberana e espiritualmente forte é sempre composta por famílias fortes, cientes da sua vocação e da sua missão na história. A família está no centro de todos estes problemas e tarefas: relegá-la para um papel subalterno e secundário, excluindo-a da posição que lhe compete na sociedade, significa causar um grave dano ao autêntico crescimento do corpo social inteiro". (João Paulo II em “Carta às Famílias” / 2 de fevereiro de 1994)
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29 julho 2015

Rabiscos



RESGATANDO GARATUJAS - 2

– VI – 

    Oh, minha Porto Alegre! Como gosto das tuas ruas, avenidas, becos, vielas. Gosto de perambular pelas tuas praças, teatros, museus, igrejas. Sempre que posso, freqüento os teus restaurantes – de preferência aqueles “velhos”, antigos, tradicionais, cheios de história e nostalgia. Mas – só pra ti, que ninguém nos ouça: o que adoro, mesmo, são os teus sebos – essas livrarias meio escondidas, quase penumbra, onde posso garimpar livros saudosos que além de poderem ser lidos, nos oferecem a oportunidade de sentir o cheiro da passado...  

– VII – 

    Lembranças. Relembranças. Imagens antepassadas e etéreas revolvendo as cinzas dos anos mortos. Resíduos de infância longínqua, como os soldadinhos de chumbo que subitamente despertam do sono merecido após o arremedo de tantas batalhas heroicas, das quais sempre saíram ilesos e de seus dias de gala a desfilarem garbosos por alamedas ilusórias. 

– VIII – 

    Do fundo mais recôndito do meu baú, afloram, vez por outra, fragmentos que estavam dispersos, formando mosaicos de vida. Assemelham-se a pedaços de lápis coloridos misturados numa desordem lastimosa, nem sombra dos mesmos que antigamente desenhavam sapos, lagartas e pandorgas, nuvens e jardins ou tentavam, com rabiscos e garatujas – caracteres toscos e feiosos, mas impregnados de ternura – narrar os sonhos e os ideais acalentados. 

– IX – 

    A história sofreu uma ruptura tão instantânea, que numa fração de segundo deixou de fazer parte da vida que nunca teve início, por não situar-se no tempo. E que, não tendo meio, nem continuidade, também não teve fim. Ficou suspensa, atemporal, em algum lugar de nossas origens, à espera do dia em que reviva envolta por tênue luminosidade, ressurgindo das brumas onde, pela quase eternidade, esteve sepultada.

– X – 

    Estas livrarias modernas dentro dos shoppings são uma atração irresistível de nossos tempos. Às vezes passo algumas horas dentro delas, encantado com a quantidade de CDs, DVDs e outras mídias oferecidas em suas prateleiras. Sempre há uma musiquinha da melhor qualidade afagando os nossos ouvidos, enquanto se saboreia, confortavelmente sentados em aprazível recanto, um delicioso café com empadinhas feitas na hora de serem consumidas. Uma delícia! Mas o que mais me surpreende quando estou lá dentro, é o fato de se poder comprar de tudo. Até livros! – vocês acreditam?!... 

Vando 

* * * 


Foto minha. Por do sol no Guaíba. Data: 28 Fev 2015 

23 junho 2015

Rabiscos



RESGATANDO GARATUJAS - 1

– I –

    A saudade seguidamente nos sitia e o faz de modo repentino. Nem estávamos pensando nela quando, num átimo, vemo-nos assolados. Ela não tem, ao menos, a sutileza da aproximação cautelosa, lenta, cuidadosa, premeditada. Quando chega atinge-nos em cheio, sem constrangimentos ou recato.
– II – 

    Cultivo, como vocês todos sabem, um certo saudosismo. Não escondo de ninguém que sou um tradicionalista inveterado. No dizer de alguns, sou anacrônico. No de outros – os meus admiradores inconfessos – sou radical, retrógrado, reacionário. Coisas da vida!...  

- III – 

    Ah, o Vento Norte!...  Vocês, que não conhecem Santa Maria e não tiveram o “privilégio” de conviver com ele, não conseguem avaliar o terror que é aquilo. Só tendo nascido lá – na Boca do Monte e adjacências – para aceitar passivamente aquele engano meteorológico que derruba o astral do espírito mais intrépido que ouse enfrentá-lo. 

– IV – 

    Meu gosto pelos velhos casarões vem desde tempos remotos. Sou apaixonado por eles. Fico embevecido ante os detalhes de suas fachadas, frontões, platibandas, sacadas e gradis. Encantam-me as largas varandas, as portas entalhadas e as janelas com vitrais que contam histórias ou que ostentam simples alegorias. 

– V – 

    Praia, na verdade – verdadeira! – não é bem “a minha praia”. Claro que não desgosto. Mas daí a julgar que sou apaixonado por ela insere-se alguma distância. Até vou, curto uma que outra onda, – já tentei plantar bananeira, acreditam? – alguma caminhada pela areia, mas tudo com muito comedimento e respeito às águas vivas e, principalmente, aos mosquitos do entardecer. 

Vando  

* * * 

Foto minha: Igreja Sagrado Coração de Jesus, Tristeza/Porto Alegre, 19 Fev 2015 

29 maio 2015

Questão de estilo

LACONISMO OU PROLIXIDADE?
Aonde, mesmo, eu queria ir?!...

    É isto. Sou um escritor amador. Ah, vocês já sabiam? Esqueci. Então me conhecem. Que bom! Sabem como escrevo. Já avaliaram o meu estilo. Pois bem. Detesto lugares-comuns. Adoro figuras de linguagem. Gosto de frases curtas. Polissilábicas – no mais das vezes. Monossilábicas, minhas preferidas – quando possível. "Poucossilábicas" – se não há outro jeito. E geralmente não há.

    Lembro-me de que uma das primeiras coisas que aprendi foi cultivar a linguagem “clara, precisa, concisa”. Isto é: lacônica. Considerar o pleonasmo como pecado capital. Usar só as palavras certas. Exatas. Economia para dizer muito. Ou tudo.

    Exageros à parte, o resumo disto não deixa de ser verdadeiro. Contudo, é difícil. E como! Nem sempre é possível. E já explico. Sei que vão entender.

    Eventualmente, em face da minha inata incapacidade de síntese contra a qual venho há anos travando cruentas lutas, escaramuças, embates, batalhas, guerras – terríveis! – torno-me prolixo, perdendo-me pelos labirintos fascinantes, mas insondáveis e tenebrosos, autênticas armadilhas sempre dispostas dissimuladamente nos ângulos mais obscuros e traiçoeiros do tema que me proponho desenvolver, principalmente quando assumo o risco de dissertar acerca de assuntos cujo domínio nem sempre faz parte do meu próprio cabedal, o que me conduz a perder o fio da meada, a misturar alhos com bugalhos e afastar-me cada vez mais da saída, e nos quais termino por me enredar de tal forma que em determinado instante entro em pânico por não mais vislumbrar qualquer luz no fim do túnel e me obrigo a lançar mão de jargões surrados que indiquem a possibilidade, ou me acenem com ela, mesmo sabidamente remota, de chegar a algum consenso sobre o que eu pretendia, realmente, dizer e não disse, ou na vã esperança de que algum ser angelical, pretensamente meu anjo protetor – não um trapalhão e humilde, embora bem-intencionado Anjo Malaquias, que certamente assessora até hoje o meu guru Quintana, – desça dos páramos celestes com a missão urgentíssima de me inspirar, safando-me, de uma vez por todas, da enrascada em que deliberadamente me envolvi mesmo sabendo dos riscos que corria de não chegar a nenhum lugar, culminando, na aventura desastrada, sitiado por orações impiedosas, imprecisas e desconexas, acrescidas de travessões e parênteses, vírgulas e mais vírgulas, sem perspectiva de encontrar um ponto e vírgula extraviado entre dois vocábulos, algum ponto de apoio, e menos ainda o tão ansiosamente desejado ponto final que sirva como sinalizador de que tudo terminou bem explicadinho. Ufa!... Consegui concluir o meu raciocínio, viram? Compreenderam direitinho?

    Então, já que não ficou nenhuma dúvida, sinto-me gratificado. Vocês foram geniais! Estou emocionado diante da sofreguidão com que degustaram esta maravilhosa página literária.

    Para recompensá-los, prometo que em breve voltarei com nova obra-prima que lhes sirva de enlevo num dia encantador como o de hoje – meio outono, meio inverno, frio e chuvarento, bem do jeito que uma porção de gente adora só pra me contrariar. Entre elas, alguns de vocês, não é?

    Pois é!

Vando


Foto: Foto minha. Fiz em Rio Grande, RS, no  caminho para o Taím, no dia 1° de janeiro de 2013. Está editada, descaracterizada do original. 

28 abril 2015

Garimpeiros dos sonhos

MERCADO DE NOSTALGIAS 



     Manhã de domingo. Um domingo de sol, como todos os domingos deveriam ser. E como de hábito, estou no Brique. No Brique da Redenção. Percorrendo nostalgicamente as tendas repletas das coisas antigas que tanto me fascinam. 
     Nem sempre resisto à tentação de tocá-las leve e cuidadosamente. De segurá-las na mão e aproximá-las dos olhos, numa atitude instintiva de quem procura detalhes inusitados de algo que ficou perdido num tempo que longe vai.
     Aqui, vejo porcelanas decoradas com os mais delicados desenhos. Logo ali, cristais refletem os raios do sol matinal, produzindo, por sua refração, um incrível efeito de arabesco luminoso que não sei como definir. Ao lado, lustres compostos de centenas de pequeninas peças fitam-me pendentes de suportes estranhos. 
    Entre moedas e medalhas, bronzes e pratarias, vislumbro louças e vasos, abajures e telefones, câmeras fotográficas, estatuetas, esculturas, ânforas e quadros, relógios e discos de vinil. Também há jóias. Muitas. Colares. Pulseiras, brincos, anéis. Broches e camafeus. Ouro e prata, diamantes, esmeraldas e águas-marinhas. Que um dia foram utilizados rotineiramente, decoraram lares e ornamentaram senhoras elegantes.
    Atrás de um biombo repleto de brocatéis, lenços de seda e vestidos em finos tecidos, revejo, depois de muito tempo, pesado reposteiro, muito semelhante àqueles das casas de nossas bisavós. Encontro retratos amarelados e cartões postais da Porto Alegre provinciana da minha infância e de lugares mais distantes, na geografia e no tempo, como Estocolmo, Atenas ou Kioto dos tempos imperiais. E descubro revistas e livros. Em português e alemão. Em francês, italiano, espanhol e russo. Em chinês, japonês e esperanto. Primeiras edições. Raridades. Edições há muito esgotadas. História e política. Biografias e viagens. Crônicas, filosofia, ciências, romances, contos e poesia. Muita poesia!

    Ah, a poesia da praça!… A poesia da rua. A poesia do Brique. Traduzida em cores e formas. Poesia pura em formato de gente também antiga e de gente mais jovem que vem aqui para passear. Mas também para procurar. Para pesquisar. Para buscar. Na tentativa de resgatar do passado um pouco do que foi se perdendo pelo caminho e do que só restaram vestígios e vagos fragmentos dispersos.  

Vando 

Foto minha - outubro de 2014

26 fevereiro 2015

Sobre a antiga suntuosidade

DA GLÓRIA À DECADÊNCIA 

       Meu gosto pelos velhos casarões vem desde tempos remotos. Sou apaixonado por eles. Fico embevecido ante os detalhes de suas fachadas, frontões, platibandas, sacadas e gradis. Encantam-me as largas varandas, as portas entalhadas e as janelas com vitrais que contam histórias ou ostentam simples alegorias. 

       Diante deles tento imaginar a solene beleza dos salões revestidos com finas tapeçarias e espelhos do mais puro cristal. Visualizo os brasões de família e os quadros e esculturas formosas que um dia fizeram parte da decoração. Trago à mente os delicados lustres e luminárias que no passado os inundaram com a luz festiva dos bailes e recepções. Revejo-os no tempo em que conheceram a nobreza, a elegância e o esplendor. Foram épocas de requinte e romantismo, parte da vida e do comportamento aristocrático de uma sociedade efervescente de arte, bom gosto e refinamento. 

       Quem terá morado neles? O que faziam? Como era o seu cotidiano? Que trilhas percorriam? Que sonhos acalentavam?  Como viveram? Como morreram? Foram felizes ou sofreram desilusões e fracassos tenebrosos? Quantas histórias de amor ou de intrigas, de dor e de alegria, deixaram gravadas nas paredes e nas antigas escadarias com corrimões adornados?!...   

       Então, quando me deparo com outros da mesma estirpe e que não tiveram a mesma sorte de serem preservados, volto a me questionar. Que motivo levou seus moradores ancestrais a abandonarem tais preciosidades? Por que estes foram condenados à destruição inapelável, abatidos que serão, com certeza, pela ação implacável do tempo?

       Observo os vestígios de sua antiga suntuosidade. Mas vendo-os assim, tão próximos da ruína total, entristeço-me ao perceber neles a tentativa inútil de fugir à fatal derrocada. Parece-me que ainda lutam por uma sobrevida, em busca da qual teimam em resistir. Todavia, o destino está selado.

       Compartilho com eles um sentimento de profunda melancolia. O fim se aproxima célere e logo se transformarão em escombros. Em pouco tempo deles nada mais restará. Apenas a saudade. Talvez... 

Vando 

* * * 

Foto: Minha, feita em Garibaldi, RS, em 2012 

28 dezembro 2014

Esperanças renovadas

ANO NOVO 


Que eu não esqueça, jamais, de agradecer 
ao meu Deus pelos dons com os quais 
fui gratuitamente dotado e de suplicar-Lhe 
perdão pela forma negligente com que 
me utilizo deles em favor 
do meu próximo. 

    O Natal de Jesus ainda está sendo comemorado e já entramos na contagem regressiva para o novo Presente que, em dois ou três dias, nos será confiado. Esperamos muito por esse Presente: um novo ano que possa restaurar nossas esperanças e nos proporcionar mais algum tempo para que consigamos consertar os erros e estragos que fomos colecionando no caminho que chega ao fim. 

    Logo ele vai chegar e se entregará, solene, aos nossos cuidados. Com mãos trêmulas e olhos embaçados vamos desembrulhá-lo da embalagem colorida em que veio delicadamente acondicionado. Certamente virá cintilante, barulhento, anunciado por fogos de artifício, sob aplausos e invocações de boa sorte. Aportará aqui repleto de presságios animadores, depois das apreensões e expectativas que marcaram a sucessão de dias que está para se esgotar. Surgirá de um momento para outro – não inesperadamente, mas num átimo que torne o instante da transição imediato e indolor. Falta muito pouco para que surja diante de nós ainda boquiabertos, - apesar de termos tido a certeza de que viria - sem sabermos ao certo o que fazer com ele, tão novinho, recém saído do almoxarifado de Cronos.

    Durante milhões de milênios esteve aguardando sua hora. Finalmente, dela se aproxima a cada segundo. O Ano Novo, com sua fisionomia simpática mas não definida de todo, olhar-nos-á espantado como quem encara surpreso uma paisagem inusitada onde aborígenes sibilantes estarão promovendo estranhos rituais. 

    O momento será de festa. De sorrisos. De brindes borbulhantes. Dançaremos e cantaremos. Alguns, muito provavelmente, nos recolheremos, por breves instantes, em silêncio e elevaremos preces fervorosas às divindades de nossas crenças, rogando bonanças. Outros extravasaremos a emoção até então armazenada, e num pranto contido, compartilharemos amplexos com os seres amados. 

    Em nossas mentes desfilarão as imagens que já passaram a pertencer, irreversivelmente, ao pretérito e nunca mais poderão ser resgatadas a não ser em devaneios e sonhos. 

    Promessas serão refeitas e novos planos traçados, na certeza de que desta vez todos os bons propósitos serão cumpridos; com a convicção de que a miríada dos sonhos acalentados, dissipados pelo caminho não mais acessível, se transformará, enfim, na mais jubilosa realidade. 

    Será tempo de rever conceitos. De avaliar o que valeu e o que não valeu a pena. De repensar os atos cometidos e redirecionar comportamentos. 

    Quanto às pessoas que me cercam não me cabe julgar nem interferir em suas novas metas. De mim, entretanto, posso assumir que vou me esforçar muito para reconstruir os caminhos dilapidados pela incúria, pois muitas foram as minhas impertinências que o ano velho levará consigo, relegando-as ao arquivo morto da eternidade onde permanecerão per secula seculorum como testemunhas silenciosas de minha passagem por este Orbe.  

    Desde já, proponho-me, sinceramente, que em 2015 tratarei com mais cortesia a telefonista que do outro lado da linha apenas cumpre com o seu dever e o garçom que demorou dois minutos a mais para servir o meu prato supérfluo. Que não promoverei mais nenhuma rinha pela vaga no estacionamento sob a alegação de que cheguei primeiro. Que saberei tolerar com bom humor os dias de frio e de chuva e não mais direi palavrões nem xingarei a humanidade quando a constante falta luz deixar de novo o meu computador inoperante e eu tiver que restaurar todo o seu sistema depois de perder arquivos importantes e fotos que jamais, em tempo algum, poderão ser refeitas. Ah!... e que procurarei fotografar mais pessoas do que flores e borboletas, mais gente do que paisagens e muros cobertos de musgo e de heras. 

    Renovarei a promessa de todos os anos que já se foram, de não mais dormir sem pedir perdão pelas mil faltas que cometi durante o dia. Que pela manhã, ao acordar, trarei na face o meu melhor sorriso de gratidão pela noite de sonhos e pela oportunidade nova que a vida me oferece para ser feliz e compartilhar esta felicidade com aqueles a quem amo muito e com aqueles a quem amo pouco - e principalmente com os que nem aprendi, ainda, a amar. 

    E se no final de mais esse ano tiverem restado outra vez, nas trilhas por onde andei, apenas montanhas de frangalhos e fragmentos rotos testemunhando a passagem de mais uma etapa que eu causei frustrada, que os deuses tenham de mim a compaixão necessária e não me neguem a condescendência de que estarei carente. Pois, apesar de mim e de tudo, um dia haverá novos tempos quando as faltas cometidas e os erros perpetrados serão remidos em definitivo, pois a Grande Lei assim decidiu que fosse.  


* * *

    A todos nós que conseguimos chegar até aqui com a consciência do dever cumprido, os votos de um feliz e próspero Ano Novo. E aos que ainda não alcançaram o sucesso almejado, que jamais falte a coragem, a palavra de fé, o incentivo fraterno e a esperança renovada de que a Vida renasce todos os dias e as oportunidades se multiplicam na mesma proporção em que os desafios se apresentam.

    Para todos, enfim, que fique a Paz, a Harmonia e o Amor, este sim, indispensável e insubstituível.

Evandro Inácio / Ano Novo de 2015 

= = = 

Crédito
Foto minha - Gramado, RS, feita no dia 20 Dez 2014 

09 novembro 2014

Jubileu de estanho / 2004-2014




11° ENCONTRO E ALMOÇO DE CONFRATERNIZAÇÃO DAS FAMÍLIAS GONÇALVES, SANTOS, LIMA, MACHADO E DESCENDENTES 

Alguém, entre nós, já se deu conta de que no próximo domingo, dia 16 de novembro de 2014, durante o nosso ENCONTRO DA FAMÍLIA estaremos comemorando  10 anos de sua instituição?  É verdade! Trata-se do seu primeiro decênio. É o grande “Jubileu de Estanho”, efeméride que evoca um metal nobre e antigo, dos mais puros. Ele é utilizado desde tempos imemoriais para confeccionar espadas de reis e príncipes, de cavaleiros e membros da mais alta nobreza. Em função de menor destaque, também tem se transformado, no decorrer do tempo, em taças para vinhos, castiçais, moedas, medalhas, placas, troféus e uma infinidade de outras coisas que almejamos se tornem perenes.

       O estanho representa a Força e a Longevidade, e suas principais características são a resistência e a flexibilidade. Além disso, por ser altamente maleável, possui ponto de fusão bastante baixo e por isso é muito utilizado para soldas, sendo resistente à corrosão.

       Como descrito acima, este belo metal não lhes parece o nosso retrato? A “nossa cara”? O que acham? Reflitamos: o tempo e a convivência nos tornam maleáveis. Mesmo com um ponto de fusão baixo, “fervemos” em algumas discussões, porém podemos nos sacrificar para proteger nossos valores (nossos metais mais nobres) que resistem e perduram por toda a vida, como a união, a honra, a coesão, a dignidade, o amor à Família, a lealdade, a sinceridade, e tudo mais que prezamos e queremos transmitir à nossa posteridade.

       Pois é. E nem tínhamos pensado nisto, não é mesmo?

       Dez anos se passaram desde aquele dia memorável – 19 DE DEZEMBRO DE 2004! – quando demos o primeiro passo para a reintegração de nossas famílias que estavam, até então, bastantes dispersas como bem podemos lembrar. De lá para cá crescemos não apenas em número mas também em experiências e vivências pessoais que nos conduziram a percepções de realidades que talvez, antes, pouco significassem mas que, hoje, adquirem dimensão inusitada. E enquanto isto, nossa família continuou a expandir-se, formando novos lares e ultrapassando  fronteiras. Recebemos parentes novos que vieram acrescentar outros nomes aos  Gonçalves, Santos, Lima, Machado e descendentes  com os quais começamos. Foram chegando de mansinho, insinuando-se, agregando-se, casando com os nossos, somando-se ... e novos membros foram nascendo entre nós!

       Nestes dez anos, em decorrência das inúmeras uniões que foram nos enriquecendo, nós, os mais velhos, ganhamos muitos genros e noras, netos e bisnetos, enquanto que os menos velhos , além dos cônjuges com os quais assumiram o compromisso de darem continuidade à descendência da qual fazemos parte, foram contemplados com cunhados e cunhadas – tornados novos irmãos! – e uma porção de sobrinhos. 

       Se o decênio que estamos às vésperas de comemorar frustrou-nos pela sentida perda de vinte e dois membros da Família – alguns partindo prematuramente, – doou-nos, também, a alegria dos nascimentos que foram duas vezes mais numerosos do que o dos passamentos que precisamos lamentar. Esta é a lei da vida – A Grande Lei plena de bondade, beleza e sabedoria!   

       Num levantamento feito a partir de nossas árvores genealógicas pudemos contabilizar, no período de 2004/2014, o nascimento de 40 novos herdeiros, hoje com idades de 10 anos para menos.  São pimpolhos maravilhosos, novinhos em folha, que vieram ornamentar e oxigenar as nossas vidas e propiciar-nos a fazer deles os HOMENAGEADOS ESPECIAIS do 11° ENCONTRO. Muitos deles, com certeza, gênios em potencial, amanhã estarão nos substituindo. Colocarão em prática as lições que aprenderem de nós – e eis aí a nossa imensa responsabilidade! – mas, seguramente, saberão fazer melhor: administrar com prudência e retidão o novo mundo que lhes caberá comandar – um mundo mais belo, mais humano, mais solidário, mais feliz.

       Esse será um dia para comemorar. Para render Graças. Para celebrar a memória dos que já não estão conosco, render gratidão ao presente e louvar o futuro. Para vibrar de alegria por estarmos juntos mais uma vez no ENCONTRO que se tornou o símbolo mais autêntico de nossas famílias. E um dia, principalmente, de dar as boas vindas a esta plêiade de pequeninas estrelas que o Amor do Pai nos confiou no decorrer deste decênio e às quais, com imenso carinho e a aquiescência de vocês, este 11° Encontro da Família é dedicado.

       Por isto, brindemos, desde já, mais uma vez. Outras vezes. Muitas vezes. A eles e a nós. Brindemos e extravasemos o nosso júbilo. Nós merecemos!

       Até domingo que vem!

Vando

01 novembro 2014

Solilóquio

UM SOPRO, UMA BRISA 

Que falta nos fazem hoje as rezas de Nhá Miúda!... 

       Sapinho, quebranto, soluços, mau olhado... nada havia que resistisse às rezas e benzeduras de Nhá Miúda. Para mordida de cobra, picada de escorpião, mijada de aranha, espinha de peixe atravessada na garganta, o tratamento era reforçado com chás e ferveduras que só ela sabia fazer, guardiã que era de segredos herdados de gerações imemoriais.

       Nhá Miúda tinha também outras habilidades, como a de parteira. Chamava de “meu fío” e “minha fía” a todos aqueles a quem suas mãos hábeis e carinhosas ajudaram a vir ao mundo. E contavam-se às dezenas. Não havia hora, nem mau tempo, nem distância, que servissem de empecilho para que ela exercitasse seu trabalho abnegado.

       A fama de boa cozinheira corria de boca em boca. Embora não sendo comum receber visitas, com frequência comentava-se que fazia bolos de milho, carne de panela e ambrosias “com mãos de fada”.

       Ninguém sabia que idade tinha. Apesar dos passos lentos e das costas levemente recurvadas, o que a obrigava a apoiar-se se num velho bastão de madeira à guisa de bengala, estava sempre em atividade. Percorria, sem cansaço aparente, longos trajetos, que mesmo para os mais jovem já seriam exaustivos.

       Cena comum era vê-la carregando uma cesta repleta de laranjas e bergamotas que distribuía prazerosamente a todos os que pelo caminho ia encontrando. Não vendia. Dava-as de presente, apenas. Colhia-as do pomar que ela mesma cuidava e cultivava, no vasto quintal onde se erguia a velha casa onde morava solitária e tranquila em sua vida pacata e sem outras atribulações que não fossem as chamadas para socorrer alguma parturiente da vizinhança.  

       Pouco conversava e sobre a família, suas origens, seu passado, jamais falava, talvez porque as pessoas não ousavam perguntar. Sentiam receio de intrometerem-se em assunto que não lhes dizia respeito. Negra, poderia ter sido escrava. Quem sabe não o fora?!... Ama-de-leite... sim, poderia ter sido. Ou aia de uma dama nobre, de alguma rainha... Ela mesma, embora a idade e a postura um tanto comprometida, tinha porte de rainha! Teria sido rainha? Onde andariam e quem teriam sido os seus súditos?

       A casa em que vivia não se assemelhava muito a um palácio. Pouco melhor do que um casebre, mesmo assim era limpa, bem arrumada, com os móveis apenas suficientes para as suas necessidades. Não era a proprietária, e supunha-se ser de um filho que ninguém jamais vira nem sabia ao certo quem era ou se alguma vez existiu. Bondosa, possuidora de extrema simpatia, rosto onde predominavam os traços de antiga beleza, seu olhar era franco e inspirava confiança e respeito. Guardava muitos segredos, não somente sobre a própria existência, como acerca das pessoas que conhecia e com as quais se relacionava.

       De quantas histórias teria sido testemunha, ou protagonista, ou a personagem principal?!...

       ...

       São passados muitos anos e agora, não sei por que, a lembrança de Nhá Miúda me veio à mente. Assim. De repente. Sem mais nem menos.  

       Posso dizer que a narrativa que fiz é tudo o que registra, pelo menos em minha memória, a passagem dessa mulher misteriosa em alguns capítulos esparsos de minha própria história. É a história singela e sutil, quase um sopro, uma brisa, de quem, como, ela, se perdeu, anônima, nas brumas de um pretérito quase perfeito, não fosse o seu súbito ressurgimento.

       Quem seria, na verdade, Nhá Miúda? Que nome teria?!... Josefa, talvez... Ou Genoveva. Ou Anastácia? Quem sabe...  Augusta? Sim, Augusta! Por que não me ocorreu, antes? Combina muito com ela – nome de rainha.

       Quando a vi pela última vez eu não era nem adolescente. Teria uns dez, onze anos... Não mais. Menos, possivelmente. A vida sofreu uma ruptura tão instantânea, que eu não percebi  que Nhá Miúda, numa fração de segundo, deixou de fazer parte de uma história que nunca teve início, pois não sei situá-la no tempo. E que, não tendo meio, nem continuidade, também não teve fim. Ficou suspensa, atemporal, em algum lugar de nossas origens, à espera de que algum dia ressurja ainda que envolta por tênue luminosidade.

Vando

* * *

Foto: do site “IMPRENSA BR” 

01 outubro 2014

Comecemos com poesia

UM DIA, UMA HISTÓRIA

    Hoje é o primeiro dia do mês, mas veio-me à lembrança a data de 31 de outubro de 1981, coincidentemente o último. Quando a efeméride me ocorreu, achei que foi domingo, pois recordo que tinha sol. Aquele sol radiante que só acontece nos domingos de primavera da Praça da Alfândega, entre as palmeiras e os jacarandás floridos.  Mas me equivoquei nos meus cálculos: era um sábado!

    Na quarta feira, dia 28, havia iniciado a 27ª Feira do Livro de Porto Alegre. E, como até hoje fazemos desde mil novecentos e antigamente, andávamos, eu e a Nina, pela Praça, entre as "barracas", deliciando-nos com o cheiro dos livros novos e garimpando os balaios onde se encontram sempre agradáveis surpresas a preços ridículos, muitas delas com cheiros antigos. Principalmente nos primeiros dias da Feira, pois as preciosidades se esgotam logo. Nesse dia estavam juntos o meu filhote, Marcelo, então com sete anos, e minha cunhada, Maria, recém chegada de Santa Maria para passar uns dias com a gente. 

    Curtíamos a Feira, que era pura festa. Pelo alto-falante, ouvimos o anúncio dos autores e das personalidades presentes, entre os quais estava alguém que há muito eu considerava como pessoa da nossa família. Com freqüência nos encontrávamos na Rua da Praia, pelas imediações da Praça da Alfândega, na Livraria do Globo ou, eventualmente, em algum outro lugar. Nunca conversei com ele. Apenas cumprimentava-o, sempre que nossos caminhos se cruzavam: "Bom dia, Poeta!" – ao que ele me correspondia com um sorriso maroto, meio tímido, meio irônico, difícil de definir. Fazia tempo que eu devorava avidamente seus livros e até já sabia de cor alguns de seus poemas. Era um dos meus gurus, ao qual passei a dedicar um carinho muito especial. Seu nome - Mario Quintana!...

    Por uma dessas coincidências que só ocorrem em dias de suprema graça, tínhamos adquirido, poucos minutos antes, três de seus livros. Para mim comprei "Apontamentos de História Sobrenatural", da Editora Globo, editado em 1976, e "Pé de Pilão", da Garatuja, editado em 1975 para meu filho. Minha cunhada comprou “A Vaca e o Hipogrifo”, também da Garatuja, de 1979. Como a sorte nos sorria, não podíamos perder a oportunidade de conversar com o Poeta, de vê-lo, de conseguir um autógrafo. 

    Entramos na fila. Uma fila enorme. Chegada a nossa vez, trocamos breves palavras. Não falamos muito, pois atrás de nós se postava uma quantidade incalculável de admiradores ansiosos para que chegasse a sua vez. No meu livro, ele escreveu: "Para o Evandro Inácio uma lembrança muito amiga do Mario Quintana", e no "Pé de Pilão" sua caligrafia inesquecível deixou registrado: "Para o Flávio Marcelo, com um abraço do amigo velho, Mario Quintana". 

    Não lembro o teor do autógrafo que ele deu para a Maria, mas todos nós saímos felizes, realizados, pois mais do que uma lembrança ditosa que levaríamos para toda a vida, ganhamos o melhor presente que podíamos esperar, qual seja o de estar com o nosso maior Poeta, ainda que por um instante breve. Efêmero. De súbito!

Vando

* * *

Notas minhas:

(1) De súbito” – Expressão muito comum na obra do Poeta. 

(2) Em 29 de outubro de 1982, (32 anos atrás) Mario Quintana é agraciado pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul com o título de Doutor Honoris Causa.

Crédito / Foto - Liane Neves 

01 setembro 2014

01 agosto 2014

Prenúncio da primavera?!...

OS IPÊS FLORESCEM DE NOVO
(... mas não é só isto) 

    Hoje vou falar sobre duas coisas de que gosto muito. Começo, naturalmente, com a primeira delas – e nem poderia ser diferente. 

    No meio da semana, chegando em casa, reparei que os ipês do condomínio onde moro já estavam com alguns botões se insinuando, prestes a desabrochar. Hoje cedo, ao abrir a janela, percebi, jubiloso, que a “promessa” dos dias anteriores estava se cumprindo. O que era apenas o início da brotação transformou-se, da noite para o dia, em milhares de flores rosadas (minha vizinha, “perita” em botânica e apaixonadamente dedicada a cuidar dos jardins, me garante que se trata de “Ipê roxo”) colorindo de alegria a paisagem até então carente de graça. 

    Como ainda estamos no dia primeiro de agosto, faltam quase dois meses para que a primavera, propriamente dita, se reapresente no esplendor de sua beleza. Mesmo assim, os ipês diante da minha janela já antecipam o que será a próxima estação – a mais bonita do ano, sem qualquer sombra de dúvida. Logo os “outros” ipês – amarelos, azuis, escarlates e de todas as tonalidades “solferinas”, – depois os jacarandás, os guapuruvus... entrarão nesta verdadeira festa que, todos os anos, faz a alegria dos nossos olhos e marca o renascer de nossos sonhos acalentados durante o período chuvoso, frio e cinzento, característico do clima aqui ao Sul do Mundo.   

    Agora vem a segunda. Neste dia 1° de agosto, comemora-se no Brasil o DIA DO FILATELISTA. Oficialmente é o “Dia do Selo”, quando a história registra a emissão do primeiro selo postal brasileiro. Na realidade, não foi “um selo”, mas três, numa série de 3 valores: 30, 60 e 90 réis. São os chamados “Olhos de Boi”. Isto ocorreu no dia 1° de agosto de 1843 e nessa data o Brasil foi o 3° país a adotar a “invenção” de Sir Rowland Hill (3 Dez 1795 – 27 Ago 1879). 

    Sir Howland Hill era um professor britânico e membro do parlamento do Reino Unido. Até o início do ano de 1840, as cartas que eram levadas aos destinatários tinham a tarifa paga por estes. Como resultado, muitas dessas correspondências eram recusadas, pois os destinatários se negavam de pagar. Devolvidas ao correio, causavam grandes prejuízos financeiros ao serviço postal de Sua Majestade. Em vista disto, Howland propôs ao Parlamento que a taxa pelo serviço fosse paga pelo remetente. Para isto foi criado de comprovante de pré pagamento, que deveria ser afixado à carta. A partir daí nasceram os selos postais, pequenos retângulos de papel que mudaram a história postal.  

    A primeira emissão dessas hoje preciosidades, ocorreu na Inglaterra no dia 6 de maio do ano de 1840. Consistia numa peça de papel impressa em cor preta, no valor de um Penny, nome com o qual passou a ser conhecido o primeiro selo do mundo: o “One Penny Black”, do qual restam raríssimos exemplares, atualmente, cotados no mercado filatélico a preços astronômicos. 

    O segundo país a emitir selos postais foi a Suíça onde, nos Cantões de Zurique e Genebra, passou a circular no dia 23 de janeiro de 1843. 

     É claro que vocês já conhecem o assunto. Como também sabem que sou filatelista “desde criancinha” e um apaixonado por esses minúsculos brinquedinhos com os quais convivo desde tempos imemoriais. Só falei deles porque hoje é o seu dia. E porque gosto tanto de selos como gosto de tempo bom, de passarinhos cantarolantes e de primavera. Primavera como a que os ipês de onde moro estão, sutilmente, me avisando de que logo, logo, vai chegar. 

     Então, me digam: eu poderia deixar de compartilhar com vocês estas duas alegrias?!... 

Vando 

* * * 

Foto: Ipê roxo / Autoria: Maria Olívia
Site: PORTFOLIO-PRESS 

17 julho 2014

Centenários de nossa História - I

O “VÔ BIBI” E A VÓ JÚLIA

    No dia 27 deste mês de julho, a história de nossa Família registra o 102° Aniversário do casamento de Odorico Hermógenes dos Santos – o “Vô Bibi” – com Júlia Figueira dos Santos, celebrado em Porto Alegre no ano de 1912.

    Odorico nasceu em Porto Alegre, RS, no dia 8 de julho de 1884, e era filho de Jacintho Hermógenes Medina dos Santos (1860 – 1931) e de Isolina Fernandes dos Santos (nascida em 1867 e falecida no dia 12 de abril de 1934). Teve mais sete irmãos: Resoleta, Ismael, Manoelita, Sebastião, Guacita, Lourenço e Maria. Faleceu em Porto Alegre, RS, no ano de 1936, com idade aproximada de 52 anos.  

    Júlia também era natural de Porto Alegre, nascida no dia 19 de agosto de 1895, e na data do casamento tinha 17 anos (Odorico estava com 28). Filha de Bernardino Figueira e Mathilde Figueira, teve duas meio-irmãs: Cecília e Judite, filhas de segundas núpcias de Mathilde. A “Vó Júlia” faleceu em Porto Alegre, RS, em 1948, com 53 anos.

    De seu casamento, Odorico e Julia tiveram um casal de filhos – Romeu (14 Nov 1914 – 10 Abr 1998) e Julieta (1916 – 1832). Seu legado em número de descendentes foi bastante modesto: vinte e duas pessoas – apenas dois filhos, oito netos, 7 bisnetos e cinco tataranetos. Há a considerar que esta geração deve-se apenas à descendência de Romeu, já que a irmã deste, Julieta, faleceu prematuramente aos dezesseis anos, ainda solteira. Tivesse ela vivido mais anos e contraído matrimônio, o número de descendentes seria, com certeza, consideravelmente maior.

    Guardo uma certa mágoa por não ter conhecido o Vô Odorico, pois no ano do meu nascimento ela já havia falecido. Imagino que teríamos nos dado muito bem, pelo pouco que sei a respeito dele. Quanto à Vó Júlia, conservo delas muitas lembranças boas. Não era do seu feitio “contar histórias” – como a Vó Mathilde que conhecia uma infinidade delas. Entretanto, possuía um talento inato para as artes manuais. De seu artesanato recordo de muitos belos desenhos a lápis e nanquim; pinturas em porcelana e cerâmica; bordados e costuras, nos quais era exímia. Seu quarto – e grande parte das peças da casa onde morávamos – era o seu atelier e ao mesmo tempo o “hospital” de pronto socorro de bonecas com cabeças, braços e pernas de biscuit que por mais danificadas que estivessem ela conseguia reconstituir à perfeição, com perícia e sensibilidade, além de confeccionar para elas vestidos, calçados, luvas, chapéus e todos os demais penduricalhos, tudo  novinho em folha, que ela criava segundo os mais elegantes figurinos da época.

    Pois é isto. Talvez um dia eu me disponha a narrar algumas das ternas reminiscências que, vez por outra, penso em compartilhar com vocês. Hoje, todavia, não o farei, limitando-me a deixar registrada esta efeméride dos 102 anos do casamento de Odorico e Júlia. Meus avós paternos. Pais do “seu” Romeu.

Vando 

25 junho 2014

Optar ou não optar?


A CAPITULAÇÃO DO JOCA



– Oi, rapaz! Que prazer encontrá-lo. Como vão as coisas?

– Vão indo. Tudo bem. E você, como tem passado?

– Sabe como é. Trabalhando sempre. E o seu blog, como vai?

– Assim… assim…

– Você não me parece muito animado. Algum problema?

– É. Realmente o blog não tá dando muito certo. Eu tentei, mas o pessoal não tá nem aí, pra ele. To pensando em jogar a toalha.

– A coisa não me parece tão desoladora assim. Andei olhando ele e achei bem bonzinho.

– Ah, dúvida cruel! É o velho dilema. Não foi o Shakespeare que disse “não sei se caso ou compro uma bicicleta”? Ou terá sido o Freud? A conotação me parece bem freudiana.

– Agora você deu prá fazer brincadeirinha, é? De repente virou piadista! Um sujeito tão sério, culto, compenetrado, sempre envolvido com coisas transcendentais…  

– É verdade. Mas acho que aí é que reside o problema. Dá uma olhada nesta crônica que escrevi recentemente. Eu ia publicar ontem, mas estou indeciso. Não sei se vão entender.

– Dá cá. Deixa eu ver.

– ???… E então?

– Se eu fosse você não escreveria isto. Aliás, escrever você já escreveu. Agora não adianta mais. Quero dizer que não publicaria.

– Você acha? Por que?

– Porque ninguém vai ler. O texto é excelente. O tema é de uma profundidade que me lembra os “Sermões” do Vieirinha. A construção das frases é irretocável. O seu estilo é de dar inveja ao Fernandinho, ao Bill e até mesmo ao Camões, mas está muito extenso e ninguém lê mais do que cinco linhas. Quando lê!…

– Mas… se eu resumir ela vai ficar incompreensível. Não consigo dizer nem a metade do que eu queria.

– Pois é, meu velho. Lamento, mas você pediu a minha opinião. Estou sendo sincero. Mas sinto ter que repetir: ninguém vai ler.

– Então você está convicto de que a minha carreira de escritor não tem nenhuma perspectiva de futuro, não é assim?

– Sim, tenho certeza. Na época em que vivemos, as pessoas lêem no máximo as manchetes do “Diário dos Pampas” e, mesmo assim, só as que trazem notícias da “Copa” e a crônica policial. Ah!… e o caderno da TV prá saber quem é o atual namorido da atriz principal “daquela novela” e quanto ela vai ganhar pra posar para a Play Boy.

– Portanto, você acha que não vale a pena publicar nem este nosso diálogo, não é isto? Ele já está com o dobro do tamanho que alguém se interessaria de ler.

– Pois é o que lhe digo. De qualquer modo, posso dar-lhe um conselho – ou melhor, uma sugestão?

– Sim, fique à vontade. Afinal, somos amigos e temos toda a liberdade pra isto.

– Arranje outro “hobby”. Esqueça o blog e pare de escrever. Ou vice-versa. Há tantas coisas interessantes prá se fazer. Mas antes, pra ir se acostumando, invente algo parecido. Dentro da área, pra começar. Você tem talento e vai se dar bem, tenho certeza.

– Mas… o que, por exemplo?

– Que tal uma coluna semanal nos jornais de grande circulação? Uma seção de horóscopo - quem sabe? - vai ter bastantes leitores. Ou de gastronomia – “O Anonimous Gourmant”, só pra fazer concorrência com o "outro“. É só pra mudança não ser tão brusca.

– ???

– Vejamos… hum!!!… “O Joca responde”! Ou “A Coluna do Joca”.  Isto!… O que acha? Na verdade você nem precisa mais ter o trabalho de escrever. Contrata alguém. Uma assessoria. Eles escrevem, pesquisam, colam e copiam, colocam o teu nome e faz de conta que a matéria é tua. De qualquer modo, dependendo do tema, ninguém vai ler, mesmo. Aí te sobra tempo prá outras atividades. Prá viajar, por exemplo. Pelo Caribe. Pela Pérsia. Pela Foz do Iguaçu, Bolívia, Venezuela… Vai conhecer o mundo, rever os velhos amigos… tomar umas que outras...

– Isto não vai dar certo!...  Não é do meu jeito.

– Então leia, apenas. Você gosta tanto. Só procure não se estressar demais. Evite romances, novelas, épicos, ficção, história, ensaios, economia e coisas do gênero. Eles são muito longos, cheios de mistérios, de enredos complicados, de passaegens que exigem pesquisa, reflexão, você sabe, né? Enchem o saco. São mais exaustivos do que exercício em esteira. (... Acho que alguém já disse isto alguma vez, só não lembro quem!...).

– Puxa, rapaz! Você teve uma idéia brilhante! Que argumentação! Me convenceu e vou seguir seu conselho. Quer dizer, a sua sugestão. Este negócio de escrever já estava ficando meio chato, mesmo. Obrigado, amigo! Obrigado, do fundo do coração! Você é mais que um amigo; é um irmão. É o meu guia, o meu guru, o meu anjo da guarda. O meu flanelinha particular. Minha gratidão será eterna como um epitáfio. 

– Você está brincando? Assim, de súbito, toma uma decisão tão séria?

– Claro. Você me abriu os olhos. A partir de hoje passo a ser um simples leitor. Vou começar a ler tudo o que puder. Desde que não tenha mais do que quatro ou cinco linhas. Afinal ninguém é de ferro.

……… 

E a partir daquele dia o Joca nunca mais voltou a escrever. 

                                                                        Vando 

                                                                          * * * 

P. S. - Esta historinha não é original nem inédita. Publiquei-a, primeiramente, em meu saudoso blog “Rabiscos e Garatujas”, alguns anos atrás. A que agora publico sofreu algumas alterações – poucas – que, no fundo, em nada modificaram o tema. “Atualizei-a” – digamos assim. Às vezes tenho vontade de ressuscitar o Joca, personagem que criei inspirado em alguém a quem muito prezo. A idéia não se dissipou de todo. Assim, a qualquer momento ele – o Joca – pode reaparecer. Espero.

* * * 

CRÉDITO ILUSTRAÇÃO: