A FAMÍLIA

"É preciso fazer realmente todo o esforço possível, para que a família seja reconhecida como sociedade primordial e, em certo sentido, soberana. A sua soberania é indispensável para o bem da sociedade. Uma nação verdadeiramente soberana e espiritualmente forte é sempre composta por famílias fortes, cientes da sua vocação e da sua missão na história. A família está no centro de todos estes problemas e tarefas: relegá-la para um papel subalterno e secundário, excluindo-a da posição que lhe compete na sociedade, significa causar um grave dano ao autêntico crescimento do corpo social inteiro". (João Paulo II em “Carta às Famílias” / 2 de fevereiro de 1994)
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12 abril 2013

Filigranas de luz

MÍSTICAS – 46

“Aqui está, Amigo, minha casa vazia e meu cheio coração: é o quanto resta, após a tempestade da véspera.
Durante muito tempo, reuni objetos que a convenção valorizou, e de ornamentos inundei o lar, fazendo-o deslumbrante e belo.
Muitas vezes desejei deter o sol triunfante, para que minhas águas se doirassem ao seu beijo, quando seus raios desciam a mirar-se no lago do meu quintal. Todavia, fagueiro ele corria pelo céu, e, ocultando-se, fazia-me chorar de emoção, ao vê-lo emoldurando nuvens brincalhonas. 
Vezes outras, roguei à pálida virgem da noite descesse seus cabelos de prata, e os umedecesse nas pétalas do meu roseiral. No entanto, ei-la no lago, a deslizar nas águas paradas, despedaçando-se sob as rodas do carro do vento.
Às aves do arvoredo, supliquei sempre cantassem à janela do meu quarto, despertando-me com o gorjeio das suas vozes canoras. Mas, quando as tive perto, no peitoril da janela, tornei-me ladrão, roubando-lhes a liberdade, para sempre as ouvir cantar... e, daí por diante, sempre estiveram a chorar a perda do céu sem fim e do arvoredo musical, que a brisa oscula e a noite acalenta.
Tudo quis, nada tive.
Quando, porém, a dor de muitos chorou à minha porta, qual tempestade de desesperos, dei todos os objetos, ornamentos e valores que a humana condição venera...
E libertei-me da rapina, libertando as aves.
A dor dos estranhos me falou tanto, que me fiz mendigo, rico que fui, para dar.
E agora que chegas, Amigo, tu a quem amo... Somente posso oferecer-te minha casa vazia e meu cheio coração, eu que antes era dono de uma casa cheia e de um vazio coração.”
* * *
(De “Filigranas de Luz”, Rabindranath Tagore, psicografia de Divaldo Pereira Franco, “LEAL”, Salvador Bahia, 1986, páginas 74 e 75).
Ilustração: do blog de NAYARA RODRIGUES