A FAMÍLIA

"É preciso fazer realmente todo o esforço possível, para que a família seja reconhecida como sociedade primordial e, em certo sentido, soberana. A sua soberania é indispensável para o bem da sociedade. Uma nação verdadeiramente soberana e espiritualmente forte é sempre composta por famílias fortes, cientes da sua vocação e da sua missão na história. A família está no centro de todos estes problemas e tarefas: relegá-la para um papel subalterno e secundário, excluindo-a da posição que lhe compete na sociedade, significa causar um grave dano ao autêntico crescimento do corpo social inteiro". (João Paulo II em “Carta às Famílias” / 2 de fevereiro de 1994)

04 julho 2012

À Vida

BRINDEMOS
Se vocês já visitaram a página “Efemérides deste Mês”, certamente verificaram que no próximo dia 27 estaremos relembrando mais um centenário, dentre os diversos que temos registrados em nossa Família. Trata-se dos cem anos do Casamento de Odorico Hermógenes e Júlia Figueira, meus avós paternos.  
Acho importante que nossa história familiar seja preservada e tanto quanto possível pesquisada, para que nossos filhos saibam que temos raízes. Que em algum momento começamos a existir como pessoas e como grupo social. Nunca me canso de insistir que um de nossos deveres mais sagrados é o de honrar e reverenciar, sempre, a memória de nossos antepassados, dos quais herdamos não apenas os muitos defeitos que eles certamente tiveram, mas algumas virtudes que, inegavelmente, nos transmitiram. E são estas que precisamos aprimorar e incentivar nossos descendentes a manter como chama permanentemente acesa, sinalizando o nosso futuro.
Assumi comigo próprio a responsabilidade por resgatar e compartilhar com vocês as nossas nascentes. Através da Árvore Genealógica já dispomos de um retrato aproximado de nossa fisionomia real. Graças a ela já podemos comemorar, mês a mês, os nossos aniversários, as nossas bodas e eventos que colaboraram para a construção de nossas personalidades.
Com estes parágrafos iniciais, à guisa de preâmbulo, pretendo abordar hoje um tema sobre o qual se guarda muita reserva, algumas vezes por preconceito,  outras por superstição. Não, não vou falar em morte. Ao contrário, quero falar de Vida e, dentro das minhas limitações por demais conhecidas, da Vida em seu patamar mais sublime, como eu a entendo.
Vejamos se consigo.  
O nosso grande sonho sempre tem sido o da imortalidade. Queremos ser eternos e não aceitamos nunca a idéia de que, vencido o nosso prazo de validade, que já vem gravado num chip em algum ponto do nosso corpo físico, teremos, forçosamente, que mudar de casa e continuar a vida noutras paragens. 
Não somos eternos. Tivemos um começo. Só Deus, nosso grande e amoroso Pai, é Eterno pois nunca precisou, como nós, ter um ponto de partida. Mas, não sei se vocês acreditam nisto, ouso afirmar: somos imortais. Tivemos nosso começo mas nunca, jamais, teremos fim. Daí a nossa imortalidade. 
Por enquanto somos poucos os que pensamos assim. Pobres seres em gestação, que ainda somos!... Não nos damos conta de que a imortalidade pela qual ansiamos tanto, não pode prender-se ao plano material, este aqui, onde tudo é palpável, e que nos proporciona a sensação de que é somente o que existe.
Para sorte nossa, fomos contemplados com a dor, que nos ajuda a refletir, a meditar, a buscar explicações e descobrir o consolo de que sendo esta vida passageira, certamente, logo ali, o Pai nos reservou coisas infinitamente melhores. E isto vale para mim e para todas as pessoas amadas que estiveram ao nosso lado e com quem compartilhamos os mesmos caminhos e tropeços, sonhos e ideais, insucessos e consolações. 
Nós e os seres que amamos também não morremos. Apenas trocamos a roupa pesada e rota por outra mais leve e novinha em folha. Afastamos-nos uns dos outros, por algum tempo, o suficiente para nos refazermos e voltarmos, juntos, na época oportuna, às tarefas momentaneamente interrompidas. Afinal, umas férias sempre ajudam...
Quando recordamos aqueles que se foram, sentimos o coração dolorido. E são tantas e tão frequentes as nossas perdas!... O que fazer nessas horas, então? Chorar? Por que não?!... De vez em quando é bom. Certos poetas algumas vezes dizem que as lágrimas lavam a alma. Principalmente quando ainda não entendemos bem o que aconteceu. Em momentos em que a saudade recém começou e não tivemos tempo de transformá-la em reminiscências cheias de ternura que nos afaguem a memória e nos impulsionem a glorificar a Vida e a sublimar os nossos sentimentos. 
Familiares - pais, irmãos, amigos... quando menos esperamos nos deixam e abrem no nosso peito um rombo enorme e vazio, pelo qual imaginamos perceber, tão somente, a falsa ilusão do nada. Passados os dias, porém, a luz ressurge e a Vida renasce na plenitude de sua onipotência, pois só ela verdadeiramente existe.
Aparentemente eles se foram. Mas... que bom que estiveram conosco! Que bom que nos amamos tanto e, com certeza, continuaremos a nos amar pela Eternidade. Que bom que levaram em sua bagagem um pouco de nós e deixaram conosco um pouco - ou um muito! - de si mesmos. 
Assim, o melhor que podemos fazer é agradecer a Deus, nosso Pai, o privilégio de os termos tido ao nosso lado e a felicidade e os sonhos que juntos desfrutamos. 
Se quisermos chorar, choremos. Juntos ou na solidão de nosso refúgio. Mas que não seja um pranto dorido, movido pela angústia e a desesperança. Ao contrário, que cada lágrima se transforme  em pequeno relicário onde permaneça guardado um nome, um semblante querido, um sorriso e uma saudade muito terna, emoldurada pela gratidão e pelas lembranças alegres. 
E depois, refeitos e radiantes, brindemos à Vida!
Vando

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