A FAMÍLIA

"É preciso fazer realmente todo o esforço possível, para que a família seja reconhecida como sociedade primordial e, em certo sentido, soberana. A sua soberania é indispensável para o bem da sociedade. Uma nação verdadeiramente soberana e espiritualmente forte é sempre composta por famílias fortes, cientes da sua vocação e da sua missão na história. A família está no centro de todos estes problemas e tarefas: relegá-la para um papel subalterno e secundário, excluindo-a da posição que lhe compete na sociedade, significa causar um grave dano ao autêntico crescimento do corpo social inteiro". (João Paulo II em “Carta às Famílias” / 2 de fevereiro de 1994)

18 março 2011

Porto Alegre, 239 anos

1772 - 26 de março - 2011

- RESUMO HISTÓRICO -

A região onde hoje se localiza a Cidade de Porto Alegre foi originalmente habitada pelos índios Guaranis.
Sua história começou quando, em 1732, Jerônimo de Ornellas Menezes e Vasconcelos, natural da Ilha da Madeira, Portugal, recebeu a sesmaria que ficava junto às margens da "Lagoa de Viamão" (Rio Guaíba = Guaybe, para os Guaranis), tendo estabelecido aí um sítio. Em 1740 foi-lhe concedida a carta de posse da área do Porto de Viamão, que veio a ser chamada, depois, de "Porto do Dornelles".

Jerônimo de Ornellas construiu sua casa no alto do Morro Santana e trouxe seus parentes e agregados, criando uma comunidade de aproximadamente 100 pessoas. No final de 1751, também provenientes dos Açores, chegaram sessenta casais que com seus filhos formavam um grupo de aproximadamente 300 pessoas.
Esses imigrantes desembarcaram no Porto do Dornelles, instalando-se no Morro Santana e adjacências. Como o local era carente de água, deslocaram-se para as margens da Lagoa de Viamão, estabelecendo chácaras próximas ao povoado e estâncias um pouco mais longe. Assim, de uma pequena colônia de imigrantes açorianos, que se estabeleceram na Ponta de Pedra, dentro da Sesmaria de Santana, capitaneada por Jerônimo de Ornellas e Vasconcellos, nascia Porto Alegre. A partir de então, a localidade começou a ser chamada de Porto dos Casais, ou Porto de São Francisco dos Casais.
Em 1772, por edital eclesiástico de 26 de março, o lugar passou a chamar-se Nossa Senhora Madre de Deus de Porto Alegre.
Em 18 de janeiro de 1773, um novo edital rebatizou a povoação, dando-lhe o nome de Madre de Deus de Porto Alegre e transformou-a na capital da Província de São Pedro do Rio Grande do Sul. O governador da Província, José Marcelino de Figueiredo, ordenou a transferência da Câmara Municipal de Viamão para Porto Alegre. A então colônia açoriana, além de centro administrativo virou área militar. Paliçadas de madeira foram construídas em torno da cidade. As estreitas ruas da Porto Alegre colonial foram projetadas como um labirinto, possuindo nítido caráter defensivo.
Pelo alvará de 23 de agosto de 1808 o Príncipe D. João elevou a capital da Capitania de São Pedro à categoria de vila, mas a instalação só ocorreu em 11 de dezembro de 1810, quando a Câmara Municipal lavrou o "auto de criação desta Vila de Porto Alegre". E no dia 13 do mesmo mês foi lavrado o "auto de demarcação e declaração dos limites que ficaram pertencendo à Vila de Nossa Senhora Madre de Deus de Porto Alegre".
Com a Carta de Lei de 14 de novembro de 1822, o Imperador D. Pedro I elevou a Vila de Nossa Senhora Madre de Deus de Porto Alegre à categoria de cidade. Nessa época Porto Alegre ainda era uma vila colonial, com mais ou menos 12 mil habitantes e existiam os muros da cidade, construídos para defesa contra as incursões espanholas.
Em 1835 o Rio Grande do Sul mergulhou na guerra dos Farrapos. Porto Alegre se encontrava fortificada, mas isso não impediu que em 20 de setembro daquele ano, fosse invadida. No dia 25 de setembro o General Bento Gonçalves da Silva entrou solenemente em Porto Alegre. Nessa mesma data também é empossado pela Câmara Municipal e a Assembléia Provincial Legislativa o novo presidente, Dr. Marciano Pereira Ribeiro. No ano seguinte o Exército Imperial retomou a cidade.  
Desde então, Porto Alegre sofreu três intermináveis cercos, que se estenderam até o ano de 1838. Foi à resistência a esses cercos, que levou o Imperador a conceder à Cidade o título de "Mui Leal e Valorosa".
A guerra não impediu que em 1843 fosse iniciada a construção do primeiro Mercado Público, organizando-se o comércio nas áreas centrais. Apesar do notável crescimento populacional daqueles tempos, a malha urbana só voltaria a crescer após 1845 quando os primeiros imigrantes alemães e italianos começam a desembarcar na capital. Aqui instalam restaurantes, pensões, pequenas manufaturas, olarias, alambiques e diversos estabelecimentos comerciais. 
A Guerra do Paraguai, a partir de 1865, transformou a capital na cidade mais próxima do teatro de operações. Começa a chegar dinheiro do governo central, serviço telegráfico, novos estaleiros, quartéis, melhorias na área portuária, e é concluída a construção do primeiro andar do novo Mercado Público. O fim da campanha do Paraguai faz o Império do Brasil mergulhar numa profunda crise político-administrativa. Em 1884 o governo municipal liberta os escravos da cidade, cinco anos antes da proclamação da República e quatro da assinatura da Lei Áurea, em 1888. 
Os primeiros governos republicanos – que no Rio Grande do Sul seguiam a filosofia positivista de Augusto Comte - deixaram profundas marcas em Porto Alegre. Grande quantidade de prédios públicos construíram-se nessa época, ornamentados com estátuas de características positivista. A preocupação desse grupo político com as benfeitorias e melhorias do espaço urbano vem transformar o antigo aspecto colonial da cidade. Existe uma enorme preocupação com o saneamento das áreas centrais. São demolidos os cortiços e os prédios mal conservados do centro. Durante as administrações republicanas (1889 a 1940) surgem a eletricidade, a iluminação pública, a rede de esgotos, o transporte por meio de bondes elétricos, a água encanada, as primeiras faculdades, hospitais, ambulância, a telefonia, as indústrias, o rádio, os planos diretores.
Durante o período Brasil Colônia e Brasil Império, os municípios eram governados pela Câmara Municipal. Com a Proclamação da República, a Câmara Municipal foi extinta, criando-se um Conselho Municipal e o Poder Executivo passou a ser exercido pelo Intendente, que dirigia "todos os serviços". Como a Intendência Municipal necessitava de uma sede própria foi construído o Paço Municipal (1891-1901), a nossa Prefeitura, na Praça Montevidéu, uma verdadeira obra de arte da arquitetura. Em 1930 Alberto Bins foi nomeado o primeiro Prefeito da Capital, quando a Intendência passa a denominar-se Prefeitura Municipal. 

- Então... a modernidade - 
A partir de 1940 a Cidade assume seu caráter de centro administrativo, comercial, industrial e financeiro do Estado. Os animais de carga, que dominavam o cenário urbano, são substituídos pelos modernos automóveis. São abertas grandes avenidas, como a Farrapos, a Borges de Medeiros e a Salgado Filho. Outras são pavimentadas, como a Azenha e a João Pessoa. A expansão do centro urbano começa a se direcionar para as áreas sul e norte da península. O crescimento continua e entre 1960 e 1970 grandes obras viárias são feitas: os viadutos da Borges de Medeiros sobre a Praça dos Açorianos, o Princesa Leopoldina (da João Pessoa à Salgado Filho), o Obirici (na  Avenida Brasiliano de Moraes), o Tiradentes (Silva Só, sobre a Protásio Alves), Dom Pedro I (ligando a Borges com a Padre Cacique), o Túnel e Viadutos da Conceição.  
As Primeira e Segunda Perimetrais, além de dezenas de outras obras melhoraram significativamente o fluxo de veículos e a circulação das pessoas em toda a Cidade. Também nessa época é construído o Parque Marinha do Brasil. 
Nossa linda Porto Alegre não parou de crescer. Conta atualmente um milhão e meio de habitantes. Está entre as principais cidades brasileiras. Destaca-se pelo excelente nível cultural de sua gente. Possui universidades, faculdades, escolas de todos os níveis, teatros, cinemas, centros culturais, museus e orquestras sinfônicas, com destaque para a nossa OSPA, grupos de teatro, e a cada dia novas entidades vão se formando e inserindo-se no panorama da Cidade.
Porto Alegre guarda belezas naturais preservadas, como grande parte de nossos morros, (um legado de nosso grande engenheiro agrônomo e ecologista, José Antônio Lutzenberger, filho do grande pintor e paisagista José Lutzemberger), o nosso Rio Guaíba, os parques e praças (Redenção, Moinhos de Vento, Marinha do Brasil, Germânia, Reserva do Lami e muitos outros).
A Capital conta com uma variedade gastronômica para todos os paladares, em centanas de restaurantes (de comida árabe, indiana, japonesa, alemã, chinesa, espanhola, portuguesa, italiana...) muitos deles tradicionais, alguns centenários, ou quase chegando a isto, choperias, cafés, pizzarias e bistrôs. Nela, encontramos belíssimos "shoppings" (Praia de Belas, Rua da Praia, Bourbon Country, Lindóia, Iguatemi, João Pessoa, Moinhos de Vento, Barra Shopping Sul...) e um Aeroporto Internacional que se equipara aos mais belos e modernos do mundo.  
A Cidade possui belíssimos monumentos de todas as épocas e estilos (que infelizmente, os que não a amam, vivem pichando e depredando, para nossa mágoa) e prédios históricos de valor inestimável pela beleza da arquitetura e pelo tesouro cultural que representam. Tem uma imponente Catedral e igrejas, sinagogas, templos, lojas, tendas, centros, para todas as religiões, crenças e filosofias que são um meio de ligação entre nós e o Mundo Superior, onde quer que este se encontre. Conta com clubes, entidades e associações, para todos os círculos sociais, esportivos e de categorias profissionais. E tem história. Uma história bonita, entremeada de fatos e de lendas, de magia e feitos, de sonhos e de recordações.   
Aos 239 anos que completa neste dia 26, Porto Alegre é assim, nem muito grande nem muito pequena. Não é melhor e (graças a Deus!) nem pior do que as outras cidades grandes ou pequenas. Alguns dizem que é provinciana. Outros insistem que é uma metrópole. Tem pessoas abastadas e pessoas carentes, como qualquer outro lugar. Mas tem a Festa dos Navegantes, o Gre-Nal, o Brique da Redenção e o Carnaval. Ah, tem também o Café do Lago, o bistrô do MARGS e o Café-Concerto da Casa de Cultura Mário Quintana! E, naturalmente, Mário Quintana, o porto-alegretense mais amado pelos amantes da poesia, Lupicínio Rodrigues, o boêmio mais famoso, e Moacyr Scliar, o romancista e contista que iniciou a Guerra do Bom Fim e que, como os outros dois anteriormente citados, nos deixou de repente, meio perdidos, meio órfãos, curtindo uma saudade que nunca vai ser superada.
Em resumo – e para terminar, pois vocês com certeza já não agüentam mais – vejo que ela, às vezes dá impressão de ser uma daquelas senhoras antigas, conservadoras, apegada às coisas do passado. Outras vezes, parece uma adolescente rebelde, impulsiva - até mesmo malcriada e rabugenta - com a personalidade ainda em formação, efervescente de idéias novas e ansiosa por mudanças que nem sabe bem quais são.
Há os que a acham maravilhosa, em oposição aos que encontram nela mil defeitos. Mas, com certeza, sobre ela paira uma quase unanimidade: a maioria a ama! Não tenham dúvida. Ela é amada apesar de seus defeitos ou de suas virtudes reais ou imaginárias.  E é esse amor que comemoramos durante esta semana e do qual sentimos orgulho de declarar sem constrangimento. Afinal, ser porto-alegrense é, entre outras bem-aventuranças, um privilégio. Um privilégio que, entusiasticamente, eu compartilho com vocês. 
Vando
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Ilustrações: Fotos do meu acervo particular:
1 – Cartão postal - Rua Duque de Caxias. Anos 1919/1920 – Não consta o autor da foto.
2 – Cartão Postal – Rua dos Andradas. Foto de Hugo Freyler, anos 1900.
3 – Foto Postal – Avenida e Praça Otávio Rocha. Edição Casa das Molduras, 1930.
4 – Prefeitura Municipal. À noite. A foto original é colorida. Minha autoria. Janeiro/2011.
5 – Vista do Morro Santa Teresa, Belvedére. Foto minha.Dezembro/2010.
SE VOCÊS CLICAREM NAS FOTOS, ELAS APARECEM AMPLIADAS.

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