A FAMÍLIA

"É preciso fazer realmente todo o esforço possível, para que a família seja reconhecida como sociedade primordial e, em certo sentido, soberana. A sua soberania é indispensável para o bem da sociedade. Uma nação verdadeiramente soberana e espiritualmente forte é sempre composta por famílias fortes, cientes da sua vocação e da sua missão na história. A família está no centro de todos estes problemas e tarefas: relegá-la para um papel subalterno e secundário, excluindo-a da posição que lhe compete na sociedade, significa causar um grave dano ao autêntico crescimento do corpo social inteiro". (João Paulo II em “Carta às Famílias” / 2 de fevereiro de 1994)

20 outubro 2012

Oh, my God!...

NOMES… E NOMES.
Sou um sujeito meio implicante. Invocado, às vezes. Ultimamente, como não encontrei nada pra me estressar, parti para uma cruzada nova.
A ideia surgiu depois que precisei deixar o carro – o meu “banheirão” de estimação – no chapeador, também conhecido por “lanterneiro” em muitos outros recantos desta Pátria amada. A causa foi uma barbeiragem (minha) que quase me custou uma porta traseira.  
Pois o carrão ficou lá (no lanterneiro, ou chapeador) durante quatro dias e meio, o que me levou a novas e emocionantes aventuras, como, por exemplo, andar de ônibus. Cheguei ao cúmulo de ir ao supermercado e na volta espremer-me entre meninos e moçoilas com mochilas às costas, abraçado a sacolas repletas de batatas, rúculas e pepinos! Literalmente.
Esses quatro dias, porém, não foram tão malfadados assim. Tive a oportunidade de conhecer a paisagem da Cidade, que eu não via porque, dirigindo, presto mais atenção à frente e às circunvizinhanças próximas do banheirão, acossado por dezenas de motoqueiros que surgem inesperada e repentinamente vindos de lugar nenhum e de todos os lados. Esta é apenas uma das preocupações rotineiras de qualquer “chauffeur” amador ou profissional que precisa encarar o trânsito nosso de cada dia.
Pois, como eu dizia, conheci um pouco da Cidade que eu já nem lembrava que existia. Vi calçadas novas e pessoas andando por elas, avenidas arborizadas, tudo (ou quase tudo) bem limpinho e arrumadinho. Encontrei majestosos edifícios envidraçados com espelhos de última geração, lojas novas e até um shopping novinho em folha numa rua para as laterais da qual eu não olhava há anos. Descobri uma pracinha bonitinha que fiquei sabendo não ser tão nova assim e – nem tudo pode ser perfeito – constatei num dos meus monumentos prediletos grave pichação e a falta da bela placa de bronze que identificava o personagem e registrava a data de sua inauguração. Pois é!...
Foi numa dessas viagens que por alguns instantes tive a atenção voltada para um casalzinho de jovens escolares que conversava no banco atrás do meu. Não tagarelavam, como habitualmente faz a garotada mais afoita. Confabulavam de modo civilizadamente educado. A mocinha que falava tinha um tom de voz belíssimo, desses que fazem bem ao ouvido, impossível de passar despercebido. Depois não prestei maior importância ao resto da conversa, mas registrei e guardei este fragmento do diálogo que ela entretinha com o amigo: “... é, a Ashley é minha prima, sim. É irmã da Suelen e do Davidson”.
“Que horror!” – exclamei para mim mesmo. Eu já havia constatado tal fenômeno a algum tempo. Às vezes, porém, não dou importância maior a certos assuntos. Entretanto, desta vez a coisa se apresentou aos meus olhos com tamanho impacto que passei a me preocupar com ela.  Fiquei a conjeturar com as minhas pantufas, sobre este modismo que tomou conta das pessoas a partir dos últimos anos.  
Cultivo, como vocês todos sabem, um certo saudosismo. Não escondo de ninguém que sou um tradicionalista inveterado. No dizer de alguns, sou anacrônico. No de outros, - os meus admiradores inconfessos - sou radical, retrógrado, reacionário! O fato verdadeiro é que não rejeito a modernidade. Ela é um imperativo ao qual não se pode fugir e, convenhamos, não é tão má como possa parecer. Vejam, por exemplo, a informática, a internet e toda a sua parafernália paralela, sem o que eu ainda estaria escrevendo isto com caneta a pena e tinta nanquim. O que me aflige, de algum modo, é a celeridade e a intensidade com que estamos renegando todo o nosso passado e substituindo “as coisas antigas e imprestáveis” por uma avalanche de “coisas novas e vazias” que nada significam e a que nenhum lugar mais nobre poderão nos levar. 
Já não nos basta termos nossa história reescrita todos os dias, ao sabor dos interesses e objetivos do momento e a execração contumaz dos valores que tínhamos tão caros. Agora os nomes de nossos filhos também se “modernizaram”. Quais dos nossos jovens ainda recebem hoje os nomes que foram nossos, de seus avós, dos antepassados, de pessoas ilustres? Quem ainda se chama Bernardo, Sofia, Gabriel, Estér? As nossas Anas – Ana Clara, Ana Maria, Ana Lúcia, as nossas Elisas, Isabéis, Carolinas, onde estão?!... Que fim levaram as Leopoldinas, Heloísas, os Jacintos, Joaquins, Odoricos?...
Claro que hoje eu não sugeriria a ninguém que desse à sua princesinha recém nascida o nome de Umbelina, que é como se chamava a minha querida e saudosa trisavó paterna, da qual não guardo a fisionomia, de vez que quando ela faleceu eu tinha chegado ao Planeta há menos de um mês. Mas se quiserem usá-lo, ficarei feliz pois ele não se perderá. Ah! Podem me convidar para padrinho.
Resumindo e finalizando, penso que substituir os antigos nomes, tão belos e sonoros como eram em sua maioria, pelos “que aí estão”, parece-me, no mínimo, criatividade duvidosa e um atentado ao bom gosto.  
Mas como não se pode vencer a correnteza nadando contra ela – eu, pelo menos, como péssimo nadador não o conseguiria – o jeito é ficar olhando e aguardar que ela mude de direção.
E para atenuar um pouco a minha frustração, tento me redimir com a multidão de Stephanies, Catherines, Roberts, Charlottes, Emillys, Irwings, Haydées e todos os demais da imensa lista, pedindo-lhes que aceitem reconciliar-se comigo e não me queiram mal.
E às Donatilas, Emílias, Júlias, Evas, Cecílias, aos Paulos, Otacílios, Vicentes, consigno aqui e conservo com devoção a minha saudade.  
Abraço e saúdo a todos, reafirmando o meu carinho a cada um, tenha o nome que tiver. Amo-os todos. De verdade.
Vando  
* * *
Ilustração: Etiqueta baixada do site MAKEBADGE. Editei o nome.  

Nenhum comentário: