NOMES…
E NOMES.
Sou um sujeito meio implicante.
Invocado, às vezes. Ultimamente, como não encontrei nada pra me estressar,
parti para uma cruzada nova.
A ideia surgiu depois que
precisei deixar o carro – o meu “banheirão” de estimação – no chapeador, também
conhecido por “lanterneiro” em muitos outros recantos desta Pátria amada. A
causa foi uma barbeiragem (minha) que quase me custou uma porta traseira.
Pois o carrão ficou lá (no
lanterneiro, ou chapeador) durante quatro dias e meio, o que me levou a novas e
emocionantes aventuras, como, por exemplo, andar de ônibus. Cheguei ao cúmulo
de ir ao supermercado e na volta espremer-me entre meninos e moçoilas com
mochilas às costas, abraçado a sacolas repletas de batatas, rúculas e pepinos!
Literalmente.
Esses quatro dias, porém, não
foram tão malfadados assim. Tive a oportunidade de conhecer a paisagem da
Cidade, que eu não via porque, dirigindo, presto mais atenção à frente e às
circunvizinhanças próximas do banheirão, acossado por dezenas de motoqueiros que
surgem inesperada e repentinamente vindos de lugar nenhum e de todos os lados.
Esta é apenas uma das preocupações rotineiras de qualquer “chauffeur” amador ou
profissional que precisa encarar o trânsito nosso de cada dia.
Pois, como eu dizia, conheci um
pouco da Cidade que eu já nem lembrava que existia. Vi calçadas novas e pessoas
andando por elas, avenidas arborizadas, tudo (ou quase tudo) bem limpinho e
arrumadinho. Encontrei majestosos edifícios envidraçados com espelhos de última
geração, lojas novas e até um shopping novinho em folha numa rua para as
laterais da qual eu não olhava há anos. Descobri uma pracinha bonitinha que
fiquei sabendo não ser tão nova assim e – nem tudo pode ser perfeito – constatei
num dos meus monumentos prediletos grave pichação e a falta da bela placa de
bronze que identificava o personagem e registrava a data de sua inauguração.
Pois é!...
Foi numa dessas viagens que por
alguns instantes tive a atenção voltada para um casalzinho de jovens escolares que
conversava no banco atrás do meu. Não tagarelavam, como habitualmente faz a garotada
mais afoita. Confabulavam de modo civilizadamente educado. A mocinha que falava
tinha um tom de voz belíssimo, desses que fazem bem ao ouvido, impossível de
passar despercebido. Depois não prestei maior importância ao resto da conversa,
mas registrei e guardei este fragmento do diálogo que ela entretinha com o
amigo: “... é, a Ashley é minha prima, sim. É irmã da Suelen e do Davidson”.
“Que horror!” – exclamei para mim
mesmo. Eu já havia constatado tal fenômeno a algum tempo. Às vezes, porém, não
dou importância maior a certos assuntos. Entretanto, desta vez a coisa se
apresentou aos meus olhos com tamanho impacto que passei a me preocupar com
ela. Fiquei a conjeturar com as minhas
pantufas, sobre este modismo que tomou conta das pessoas a partir dos últimos
anos.
Cultivo, como vocês todos sabem,
um certo saudosismo. Não escondo de ninguém que sou um tradicionalista
inveterado. No dizer de alguns, sou anacrônico. No de outros, - os meus
admiradores inconfessos - sou radical, retrógrado, reacionário! O fato verdadeiro
é que não rejeito a modernidade. Ela é um imperativo ao qual não se pode fugir
e, convenhamos, não é tão má como possa parecer. Vejam, por exemplo, a
informática, a internet e toda a sua parafernália paralela, sem o que eu ainda
estaria escrevendo isto com caneta a pena e tinta nanquim. O que me aflige, de
algum modo, é a celeridade e a intensidade com que estamos renegando todo o
nosso passado e substituindo “as coisas antigas e imprestáveis” por uma
avalanche de “coisas novas e vazias” que nada significam e a que nenhum lugar
mais nobre poderão nos levar.
Já não nos basta termos nossa
história reescrita todos os dias, ao sabor dos interesses e objetivos do
momento e a execração contumaz dos valores que tínhamos tão caros. Agora os
nomes de nossos filhos também se “modernizaram”. Quais dos nossos jovens ainda
recebem hoje os nomes que foram nossos, de seus avós, dos antepassados, de pessoas
ilustres? Quem ainda se chama Bernardo, Sofia, Gabriel, Estér? As nossas Anas –
Ana Clara, Ana Maria, Ana Lúcia, as nossas Elisas, Isabéis, Carolinas, onde
estão?!... Que fim levaram as Leopoldinas, Heloísas, os Jacintos, Joaquins,
Odoricos?...
Claro que hoje eu não sugeriria a
ninguém que desse à sua princesinha recém nascida o nome de Umbelina, que é
como se chamava a minha querida e saudosa trisavó paterna, da qual não guardo a
fisionomia, de vez que quando ela faleceu eu tinha chegado ao Planeta há menos
de um mês. Mas se quiserem usá-lo, ficarei feliz pois ele não se perderá. Ah!
Podem me convidar para padrinho.
Resumindo e finalizando, penso
que substituir os antigos nomes, tão belos e sonoros como eram em sua maioria,
pelos “que aí estão”, parece-me, no mínimo, criatividade duvidosa e um atentado
ao bom gosto.
Mas como não se pode vencer a
correnteza nadando contra ela – eu, pelo menos, como péssimo nadador não o
conseguiria – o jeito é ficar olhando e aguardar que ela mude de direção.
E para atenuar um pouco a minha
frustração, tento me redimir com a multidão de Stephanies, Catherines, Roberts,
Charlottes, Emillys, Irwings, Haydées e todos os demais da imensa lista, pedindo-lhes
que aceitem reconciliar-se comigo e não me queiram mal.
E às Donatilas, Emílias, Júlias, Evas,
Cecílias, aos Paulos, Otacílios, Vicentes, consigno aqui e conservo com devoção
a minha saudade.
Abraço e saúdo a todos,
reafirmando o meu carinho a cada um, tenha o nome que tiver. Amo-os todos. De
verdade.
Vando
* * *
Ilustração: Etiqueta baixada do site MAKEBADGE. Editei o nome.
Nenhum comentário:
Postar um comentário