RESGATANDO GARATUJAS - 2
– VI
–
Oh, minha Porto Alegre! Como
gosto das tuas ruas, avenidas, becos, vielas. Gosto de perambular pelas tuas praças,
teatros, museus, igrejas. Sempre que posso, freqüento os teus restaurantes – de
preferência aqueles “velhos”, antigos, tradicionais, cheios de história e
nostalgia. Mas – só pra ti, que ninguém nos ouça: o que adoro, mesmo, são os
teus sebos – essas livrarias meio escondidas, quase penumbra, onde posso
garimpar livros saudosos que além de poderem ser lidos, nos oferecem a
oportunidade de sentir o cheiro da passado...
– VII
–
Lembranças. Relembranças. Imagens
antepassadas e etéreas revolvendo as cinzas dos anos mortos. Resíduos de
infância longínqua, como os soldadinhos de chumbo que subitamente despertam do
sono merecido após o arremedo de tantas batalhas heroicas, das quais sempre
saíram ilesos e de seus dias de gala a desfilarem garbosos por alamedas
ilusórias.
–
VIII –
Do fundo mais recôndito do meu
baú, afloram, vez por outra, fragmentos que estavam dispersos, formando
mosaicos de vida. Assemelham-se a pedaços de lápis coloridos misturados numa
desordem lastimosa, nem sombra dos mesmos que antigamente desenhavam sapos,
lagartas e pandorgas, nuvens e jardins ou tentavam, com rabiscos e garatujas –
caracteres toscos e feiosos, mas impregnados de ternura – narrar os sonhos e os
ideais acalentados.
– IX
–
A história sofreu uma ruptura tão
instantânea, que numa fração de segundo deixou de fazer parte da vida que nunca
teve início, por não situar-se no tempo. E que, não tendo meio, nem
continuidade, também não teve fim. Ficou suspensa, atemporal, em algum lugar de
nossas origens, à espera do dia em que reviva envolta por tênue luminosidade,
ressurgindo das brumas onde, pela quase eternidade, esteve sepultada.
–
X –
Estas livrarias modernas dentro
dos shoppings são uma atração irresistível de nossos tempos. Às vezes passo
algumas horas dentro delas, encantado com a quantidade de CDs, DVDs e outras
mídias oferecidas em suas prateleiras. Sempre há uma musiquinha da melhor
qualidade afagando os nossos ouvidos, enquanto se saboreia, confortavelmente
sentados em aprazível recanto, um delicioso café com empadinhas feitas na hora
de serem consumidas. Uma delícia! Mas o que mais me surpreende quando estou lá
dentro, é o fato de se poder comprar de tudo. Até livros! – vocês
acreditam?!...
Vando
* * *
Foto minha. Por do sol no Guaíba. Data: 28
Fev 2015
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