A FAMÍLIA

"É preciso fazer realmente todo o esforço possível, para que a família seja reconhecida como sociedade primordial e, em certo sentido, soberana. A sua soberania é indispensável para o bem da sociedade. Uma nação verdadeiramente soberana e espiritualmente forte é sempre composta por famílias fortes, cientes da sua vocação e da sua missão na história. A família está no centro de todos estes problemas e tarefas: relegá-la para um papel subalterno e secundário, excluindo-a da posição que lhe compete na sociedade, significa causar um grave dano ao autêntico crescimento do corpo social inteiro". (João Paulo II em “Carta às Famílias” / 2 de fevereiro de 1994)

11 junho 2011

Abraçar esquinas

SER JOVEM
Artur da Távola



Ser jovem. Quem não gosta de permanecer jovem?   
Ser jovem é amar a vida, cantar a vida, abraçar a vida, perdoando até as pedradas que a vida nos joga em rosto.
Ser jovem é ter altos e baixos, entusiasmos e desalentos. É vibrar com os momentos bons e passar por cima do que nos machuca, com um sorriso fácil apagando os percalços.
Ser jovem é apiedar-se dos mais fracos, não ter vergonha de fazer um sinal da cruz em público, cantarolar uma canção em pleno ônibus. E apreciar uma piada gostosa.  
Ser jovem é escrever diário, às vezes. Copiar poesias de amor e remetê-las ao namorado, à namorada, com assinatura própria.  
Ser jovem é compadecer-se de quem sofre, com aquela vontade imensa de fazer o milagre da cura, de restituir a saúde àqueles que a gente estima e ama.
Ser jovem é beber um lindo pôr-do-sol, ar livre e noites estreladas. Não se intrometer na vida alheia, fazer silêncios impossíveis, ficar ao lado das crianças, gostar de leitura. Ter ódio de guerra e de ser manipulado.
Ser jovem é ter olhos molhados de esperança e adormecer com problemas, na certeza de que a solução madrugará no dia seguinte.
Ser jovem é amar a simplicidade, o vento, o perfume das flores, o canto dos pássaros. Ter alegria ao dramático, ao solene. E duvidar das palavras.
Ser jovem é vibrar com um gol do time, jogar na loteria esportiva, emocionar-se com filmes de ternura e simpatizar secretamente com alguém que a gente viu só de passagem.
Ser jovem é planejar praias no fim do ano, sonhar com um giro pela Europa e uma esticada pela Disneylândia... algum dia.
Ser jovem é sentir-se um pouco embaraçado diante de estranhos, não perder o hábito de encabular, tremer diante de um exame e detestar gente gritona e resmunguenta.
Ser jovem é continuar gostando de deitar na grama, caminhar na chuva, iniciar cursos de inglês e violão, sem jamais terminá-los.
Ser jovem é não dar bola ao que dizem e pensam da gente. Mas irritar-se, quando distorcem nossas melhores intenções.  
Ser jovem é aquele desejo de fazer parar o relógio, quando o encontro é feliz,  quando a companhia é agradável e a ventura toma conta do nosso ser.
Ser jovem  é caminhar firme no chão, à luz d’alguma estrela distante.
Ser jovem é avançar de encontro à morte, sem medo da sepultura e do que vem depois.
Ser jovem é permanecer descobrindo, amando, servindo, sem nunca fazer distinção de pessoas.
Ser jovem é olhar a vida de frente, bem nos olhos,  saudando cada novo dia, como presente de Deus. 
Ser jovem é realimentar o entusiasmo, o sorriso, a esperança, a alegria, a cada amanhecer...
"Ser jovem é acreditar um pouco na imortalidade, em vida.  É querer a festa, o jogo, a brincadeira, a lua, o impossível. Ser jovem é ser bêbado de infinitos que terminam logo ali. É só pensar na morte de vez em quando. É não saber nada e poder tudo.
Ser jovem é gostar de dormir e crer na mudança. É meter o dedo no bolo e lamber o glacê. É cantar fora do tom, mastigando depressa, mas engolir devagar a fala do avô.
Ser jovem é embrulhar as fossas no celofane do não faz mal. É crer no que não vale a pena, mas ai da vida se não fosse assim.
Ser jovem é misturar tudo isso com a idade que se tenha, trinta, quarenta, cinqüenta, sessenta, setenta ou dezenove. É sempre abrir a porta com emoção. É abraçar esquinas, mundos, luzes, flores, livros, discos, cachorros e a menininha, com um profundo, aberto e incomensurável abraço feito de festa, dentes brancos e tímidos, todos prontos para os desencontros da vida. Com uma profunda e permanente vontade de ser"
* * *
Transcrito do site CONTOS & POESIAS
Ilustração: “Cinemagraphs” –  foto com movimento, criada por Jamie Beck e Kevin Burg.
*
Artur da Távola, pseudônimo de Paulo Alberto Monteiro de Barros, político, escritor, poeta e jornalista brasileiro. Nasceu no Rio de Janeiro em 3 de janeiro de 1936, onde também faleceu, em 9 de maio de 2008.  

Nenhum comentário: