À GUISA DE CANTOCHÃO
Fim de tarde. O Sol vai se pondo no horizonte enquanto projeta os últimos raios de sua luz avermelhada sobre a paisagem vespertina. Logo será noite.
A igreja, no alto da colina, destaca-se solene no cenário. Sua silhueta recorta-se contra um céu de azul profundo que ainda persiste na direção do leste. Na imensidão pequeninas estrelas começam, tímidas, a tremeluzir.
O templo é solene e austero, sem os detalhes rebuscados do barroco. Durante o dia celebraram-se Missas. Houve cânticos. Comunhões. Fervor de preces. Almas genuflexas em recolhimento profundo. Agora está deserto.
Da distância em que me encontro vejo-lhe a porta ainda aberta. Subo pelas escadarias que levam ao átrio. Aproximo-me, devagar, e entro. Vislumbro a nave central, o corredor extenso que leva ao altar-mor iluminado com luz mortiça. Ao lado um círio. Um crucifixo dourado. Uma lamparina acesa cintilando junto ao sacrário.
No vazio reina o silêncio. A penumbra ambiente é compensada pela luz artificial que ilumina parte do altar e pela suave claridade natural que, lá fora, ainda não se dissipou de todo.
A luminosidade penetra, mansa e sorrateiramente, pelos vitrais e pela porta, espalhando-se nas paredes altas, nos arcos e colunas, mesclando-se pelo claro-escuro, realçando as formas arquitetônicas discretas e despojadas de afrescos, predispondo-nos à reflexão e ao recolhimento.
O convite à oração é irresistível. Sento-me por alguns instantes. Olho ao redor. Estou sozinho. Pelo menos é o que deduzo. Balbucio uma prece singela como a que aprendi e recitava na infância.
Não sei quanto tempo passou. Afinal, levanto e caminho na direção da porta. Saio e deixo que por ela entrem apenas as últimas claridades do crepúsculo.
Eu passava por ali ao acaso quando tudo aconteceu. Naturalmente. Simplesmente. Sem premeditação. Agora, retomo o caminho interrompido e volto a andar na direção de meu destino.
O meu dia, de repente ficou completo. Desapareceram, como por encantamento, todos os anseios e necessidades que ainda pudessem me afligir. A partir de agora nada mais a desejar. Nada a exorcizar e nada a pedir. Tudo a agradecer.
Vando
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Foto minha - Igreja de Santo Antonio / Porto Alegre
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