A pracinha que deu samba

ALTO DA BRONZE

(Praça General Osório) 

“Alto da Bronze, cabeça quebrada, praça querida,

sempre lembrada, a  Praça Onze da molecada,

Praça sem banco, do rato branco e do futebol,

da garotada endiabrada, das manhãs de sol.”

- Paulo Coelho (11-Fev-1910 – 21-Set-1941) –

       Para vocês não é novidade que eu seja apaixonado pela minha Cidade. Dentro de dois meses, esta paixão estará completando setenta e três anos. É quase este o tempo em que caminho por suas ruas, avenidas, becos, vielas. Gosto de perambular pelas praças, teatros, museus, igrejas; sempre que posso, frequento seus restaurantes – de preferência aqueles “velhos”, antigos, tradicionais, cheios de história e nostalgia. Minhas andanças incluem, obrigatoriamente, visitas a livrarias, tanto às novas e imensas (dentro dos shoppings, em sua maioria) onde se encontra de tudo – até livros! – como – e principalmente – aos sebos, onde me sinto tão à vontade como nos tempos pretéritos-mais-que-perfeitos em casa dos avós. Mas é andando por suas calçadas e logradouros que me sinto sempre, de cada vez, mais enamorado dela. Surpreendo-me seguidamente como se fossem lugares nunca antes vistos. Degusto, literalmente, cada ângulo de esquina, as esculturas dos prédios históricos, o cheiro do café da Matheus, a floração dos flamboyans e das paineiras, o canto dos sabiás na Praça XV.

       Em vista do tema escolhido, hoje vou falar um pouco de um dos lugares que muito aprecio e pelo qual nutro carinho especial. Seu nome – ou como é chamado: Alto da Bronze.

       Pois o Alto da Bronze fica na subida da Rua Duque da Caxias, a partir do Gasômetro. Nele podemos encontrar muitas – e belas – edificações antigas e descobrir coisas bonitas que mesmo uma parte considerável da população desconhece, mesmo que, alguma vez, já tenha ouvido falar. Foi imortalizado no samba de Paulo Coelho, grande pianista porto-alegrense nascido em 11 de fevereiro de 1910 e falecido em 21 de setembro de 1941, depois de uma intensa vida de apenas 31 anos. Seu nome é atribuído à Praça General Osório, mas também refere-se e identifica toda a área adjacente.

       Na história da praça encontramos diversos nomes pelos quais, em seus primórdios, foi chamada: Alto do Manoel Caetano, Alto do Senhor dos Passos, Alto da Conceição e, finalmente, Alto da Bronze, nome perpetuado na tradição de Porto Alegre. De início foi um largo, e seu ajardinamento começou em 1887 e se manteve até 1920, quando sofreu profunda remodelação para corrigir o terreno e atenuar a ladeira íngreme em que se situava. Limita-se pelas ruas Duque de Caxias, General Portinho e Coronel Fernando Machado. 

       O Alto da Bronze possui muitas construções antigas junto a outras mais recentes. Dentre todas, gosto muito do bonito prédio onde está sediado o Ministério Público Militar. Ali encontra-se também a sede do Tribunal Regional Eleitoral e duas escolas que se destacam no cenário local: o Jardim de Praça Pica-Pau Amarelo e a Escola Técnica Ernesto Dornelles. 

       A Escola Municipal de Educação Infantil Jardim de Praça Pica-Pau Amarelo foi o primeiro Jardim de Praça em Porto Alegre, fundado em 1926 pelo intendente Otávio Rocha. Sua sede está num prédio de dois pisos, em alvenaria, e sua origem deve-se ao professor porto-alegrense Frederico Guilherme Gaelzer, que em viagem aos Estados Unidos conheceu a idéia de aproveitamento de áreas de recreação para a oferta de educação a crianças.

       Já a Escola Técnica Senador Ernesto Dornelles, na Rua Duque de Caxias, foi fundada em 06 de junho de 1946, pelo Decreto Estadual nº. 649 de 29 de dezembro de 1942. Seu objetivo foi ser uma das primeiras escolas técnicas femininas do país.  O imponente prédio onde está instalada foi construído em 1914, e possui grande beleza arquitetônica. Projetado em 1913 pelo engenheiro arquiteto Affonso Herbert, foi executado pelos engenheiros Manuel Itaqui e Roberto Roncolli. As obras foram concluídas em 1917. É um prédio monumental, com colunas na entrada atingindo 13 metros de altura. O pé-direito dos pisos é de 6,60m.

       No Alto da Bronze / Praça General Osório há muito o que ver e apreciar. É um lugar cheio de histórias, lendas, (con)tradições. Porto Alegre possui muitos recantos assim. Poucos deles, porém, resumem, como este e com tanta autenticidade a alma desta mui Leal e Valerosa Cidade que, ainda nos dias atuais, quando já não há mais cercos, vem resistindo, como pode, às investidas alienígenas e à inconfidência dentro de suas próprias trincheiras.

       Até quando conseguirá manter a mesma bravura de antanho?!...

Vando

Fotos minhas. Outras fotos do Alto da Bronze eu publiquei em 21 de agosto de 2013, no meu blog “RETRATOS DOMEU JARDIM”.