A FAMÍLIA

"É preciso fazer realmente todo o esforço possível, para que a família seja reconhecida como sociedade primordial e, em certo sentido, soberana. A sua soberania é indispensável para o bem da sociedade. Uma nação verdadeiramente soberana e espiritualmente forte é sempre composta por famílias fortes, cientes da sua vocação e da sua missão na história. A família está no centro de todos estes problemas e tarefas: relegá-la para um papel subalterno e secundário, excluindo-a da posição que lhe compete na sociedade, significa causar um grave dano ao autêntico crescimento do corpo social inteiro". (João Paulo II em “Carta às Famílias” / 2 de fevereiro de 1994)

13 agosto 2011

Apenas um homem bom

MENSAGEM PELO DIA DOS PAIS
Dias atrás resolvi enviar a vocês, pais de nossa grande Família e aos pais de todos os lugares do Brasil e do mundo que acessam nosso blog freqüentemente, um abraço pelo Dia dos Pais que este ano comemora- mos amanhã, dia 14 de agosto.  
Claro que pensei em escrever uma mensagem plena em figuras de retórica e simbolismos exaltando a figura do pai. Mas já não estou mais em idade disto. Depois de sete décadas colecionando anos e metabolizando vivências, este ainda é um tema, para mim, difícil de desenvolver.  
Ora, pai! O que é ser pai? Milhões de versos, poemas, crônicas, estudos científicos, defesas de teses, frases, mensagens, etc., etc., vêm, há centenas de anos, sendo escritos e espalhados pelos quatro cantos do mundo  enaltecendo este personagem. (Engraçado esse negócio de “quatro” cantos do mundo! Em princípio a alusão, parece-me, é relativa ao planeta Terra. Esta não é redonda? Ou quase? Assim, onde se localizam os tais “cantos”? Bem... deixemos prá lá!).
O que eu queria dizer, na verdade, é que fiquei sem saber o quê dizer.  
Pai... Pai não se explica. Ou é ou não é. Não precisa ser pai biológico. Pode até ser adotivo. Ou “emprestado”. Mas se não for “PAI”, - aquele, de verdade - de nada adiantou. Lembram do “reclame” que diz que “não basta ser pai...”?
O fato é que a gente sempre tem no pai uma referência. Um ponto de partida. Um farol indicando o perigo e orientando para que corrijamos o rumo. Um “norte” que, certo ou equivocado, serviu e ainda serve para direcionar a nossa caminhada para o destino que somos obrigados a alcançar, embora este dependa muito mais de nós mesmos e das atitudes que tomamos enquanto vamos adquirindo discernimento.
Não só nesse dia, mas constantemente, lembro muito do “meu velho”, o “seu” Romeu. Eu gostava dele, sabem? E como gostava!... Ele foi o meu ídolo, o meu guru, durante toda a vida, mesmo -  talvez até mais - depois que tornei-me adulto.  É óbvio que não se tratava daquele “santo homem”, nem de um “súper-herói” como o que a gente, em criança, imagina. Mas soube, como poucos, “segurar a barra”. Sustentou um monte de filhos dando a cada um o amor, o carinho e o apoio moral e material necessários, além de não negar a nem um, em nenhum momento, o afeto, a palavra amiga, o perdão pelas burrices que trazíamos inatas e pelas traquinadas monumentais que todos os dias aprontávamos novas. Ensinou-nos o valor da tolerância sem conivência, do trabalho, do cumprimento da palavra empenhada, da sinceridade, do respeito, da fraternidade, do culto à honestidade.
Eu poderia resumir dizendo que foi no mínimo um homem digno. Honrado. Responsável. Trabalhador – e como! Uma palavra que dissesse podia-se  aceitar como dogma, pois de sua boca jamais saiu uma mentira, à qual era avesso. Se não quisesse dizer uma verdade, calava, quando tal era conveniente e até nisto demonstrou ser um diplomata.  Era – e foi sempre – fiel à família, amigo sincero dos poucos – mas sinceros - amigos, e leal à profissão que exerceu como se um sacerdócio fosse. Cultivava intransigentemente a pontualidade. Compromisso que assumisse era cumprido religiosamente.
Lembro de tê-lo visto, algumas vezes, com sapatos rotos,  mas nós, os filhos, jamais deixamos de ter os nossos novinhos. Era um homem culto, apesar da escolaridade incompleta, o que não o impedia de ser – como alguém que conheço – um leitor compulsivo.  
Gostava de cinema e de teatro, que freqüentava sempre na companhia da “dona” Evinha, mulher, esposa, companheira e cúmplice de toda uma vida (estavam casados há 59 anos quando ele morreu. Ela faleceu no ano seguinte). Era católico, apostólico, romano, e “carola” como só ele! Depois da “santa madre Igreja”, a instituição para ele mais sagrada era a Família.
Um dia desses ainda vou escrever alguma coisa sobre ele, pois sua biografia – e juro que não é por ter sido o “meu” pai -  merece registro. De qualquer forma, digo-lhes, baseando-me no que guardo dele e no testemunho do que foi sua vida: não foi nem santo nem herói; ele foi apenas um homem bom e decente.  
Por isto, neste dia 14 de agosto de 2011, Dia dos Pais, reverencio, na memória do “seu” Romeu, todos os patriarcas e precursores de nossas Famílias que, tendo exercido condignamente seus deveres como pais, seguiram na direção das estrelas levando consigo a consciência da missão cumprida. 
Aos pais que somos e que ainda temos a tarefa de legar à posteridade a formação de pessoas de bem, envio meu abraço carinhoso e fraterno, parabenizando a todos, em meu nome e em nome da "Família Nós Aqui" pelo dia que ora comemoramos.   
Não precisamos ser santos. Nem heróis. Se conseguirmos ser apenas e tão somente homens bons, já teremos dado um grande passo na direção do que esperam de nós os nossos filhos, os filhos de nossos filhos e todos os que forem gerados de nossas descendências. Depois que tivermos passado, a humanidade com certeza vai ser melhor, se soubermos nos desincumbir agora da tarefa que nos coube por vocação ou por missão trazida do Mais Alto. E um dia, se alguém se dispuser a escrever nossas biografias, nelas encontrará o título mais importante de nosso legado: pai.  
Vando

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