A FAMÍLIA

"É preciso fazer realmente todo o esforço possível, para que a família seja reconhecida como sociedade primordial e, em certo sentido, soberana. A sua soberania é indispensável para o bem da sociedade. Uma nação verdadeiramente soberana e espiritualmente forte é sempre composta por famílias fortes, cientes da sua vocação e da sua missão na história. A família está no centro de todos estes problemas e tarefas: relegá-la para um papel subalterno e secundário, excluindo-a da posição que lhe compete na sociedade, significa causar um grave dano ao autêntico crescimento do corpo social inteiro". (João Paulo II em “Carta às Famílias” / 2 de fevereiro de 1994)

30 novembro 2011

Garimpeiros do sonho

MERCADO DE NOSTALGIAS 
Manhã de domingo. Domingo de sol, como todos os domingos deveriam ser. Para não perder o hábito, estou no Brique. No Brique da Redenção. 
Nostalgicamente percorro as barracas repletas de coisas antigas. Nem sempre resisto à tentação de tocá-las. De segurá-las na mão e aproximá-las dos olhos, num gesto instintivo de quem procura detalhes inusitados de algo que ficou perdido num tempo do qual nada mais restou a não ser reminiscências. 
Aqui e ali, porcelanas decoradas com as mais delicadas filigranas. Peças de cristais refletem os raios do sol matinal, produzindo, por sua refração, um incrível efeito luminoso que não sei como definir. Entre uns e outros, lustres compostos de uma infinidade de peças – algumas microscópicas - fitam-me pendentes de suportes estranhos.  
Junto a moedas, bronzes e pratarias, vislumbro louças e vasos, abajures e telefones, câmeras fotográficas, estatuetas, esculturas, ânforas e quadros, relógios e discos de vinil.  
Também há jóias. Muitas. De Todas as cores, formas e origens. Colares. Pulseiras, brincos, anéis. Broches e camafeus. Ouro e prata. Diamantes, esmeraldas e águas-marinhas. Preciosidades autênticas que um dia ornamentaram os cabelos, braços, dedos e colos sensuais de senhoras elegantes. 
Percebo atrás de um biombo repleto de brocatéis, lenços de seda e vestidos em finos tecidos. Revejo, após muitos anos, pesado reposteiro, muito semelhante àqueles que revestiam as portas e janelas das casas das bisavós.  
Encontro retratos amarelados e, com surpresa, descubro alguns cartões postais da minha Porto Alegre ainda provinciana,  hoje tão raros.  Meus olhos perscrutam, ávidos,  fotos de lugares distantes na geografia e no tempo, como Estocolmo, São Petersburgo, Atenas ou Kioto das dinastias imperiais.  
Sob o céu luminoso desta manhã, manuseio revistas e livros, muitos deles com cheiro das velhas bibliotecas silenciosas e solenes. Em português e alemão. Em francês, italiano, espanhol e russo. Em japonês, chinês e esperanto. Primeiras edições. Raridades. Edições há muito esgotadas. História e política, biografias e viagens, crônicas, filosofia, ciências, romances, contos e poesia. Muita poesia.  Quase tudo poesia! 
Ah, a poesia da praça!… A poesia da rua. A poesia do Brique. Traduzida em cores e formas. Em sons e pregões. Na alegria do palhaço, na melodia melancólica de um realejo, no olhar cheio de brilho e de pureza do menininho que se lambuza deliciosamente com algodão doce...  
Poesia pura em formato de gente também antiga e de gente mais jovem que vem aqui para passear. Mas também para procurar. Para pesquisar. Para buscar. Garimpeiros do sonho, numa tentativa de resgatar do passado um pouco do que foi se extraviando pelo caminho e do que só restaram vestígios sutis e vagos fragmentos dispersos embebidos em saudade.
Vando 

Foto minha. Brique da Redenção, feita no dia 25 Set 2011

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