A FAMÍLIA

"É preciso fazer realmente todo o esforço possível, para que a família seja reconhecida como sociedade primordial e, em certo sentido, soberana. A sua soberania é indispensável para o bem da sociedade. Uma nação verdadeiramente soberana e espiritualmente forte é sempre composta por famílias fortes, cientes da sua vocação e da sua missão na história. A família está no centro de todos estes problemas e tarefas: relegá-la para um papel subalterno e secundário, excluindo-a da posição que lhe compete na sociedade, significa causar um grave dano ao autêntico crescimento do corpo social inteiro". (João Paulo II em “Carta às Famílias” / 2 de fevereiro de 1994)

01 março 2012

Todo cuidado é pouco

- Do blog de Paulo Hackmann -
POR QUE FALAR EM CARRAPATOS?

Março está começando e não posso deixar passar em branco este registro, quando aproveito para saudar o “ano novo” que agora começa. Sim, o ano está começando. Em março. Janeiro e fevereiro não existem. Quer dizer: existem, mas só burocraticamente. Aliás, reconstituindo a história, constatamos que estes dois meses  resultaram da adoção do Calendário Gregoriano, pois o ano, até então, tinha só dez meses e começava, justamente, em março, dedicado ao grande Marte, deus da Guerra. Ou seja, já se começava o ano “indo à luta”. 

Por falar em "em branco", (vide o parágrafo anterior) lembrei-me, de súbito (co- mo Mário Quintana gostava de dizer) que preciso ter mais cuidado com a lin- guagem   “politicamente correta”, tão enraizada nas mentes contemporâneas.

Preciso me manter atento aos modos de dizer as coisas, para não correr riscos. Ouço seguidamente severas críticas aos incautos que se utilizam de expressões como “a coisa está preta”, ou “isto é uma judiaria” e inúmeras outras que, em tempos recentes, vêm sendo exorcizadas com o objetivo de não melindrar certas minorias. Muitas vezes até receio dizer que “a vaca foi pro brejo”, pois nunca se sabe em qual vaca servirá a carapuça. Portanto, é imprescindível redobrar os cuidados com o que digo, inclusive quanto à interpretação que possa ser dada a “certas” minorias. O peixe morre pela boca.

Certas expressões, dependendo do contexto, podem causar constrangimento e até ofender os brios de alguém, mesmo que more distante do meio em que vivo. Imaginemos que possa ser um esquimó que, neste exato momento, esteja me lendo, sentado confortavelmente no interior de seu iglu, enrolado em peles de focas, com o seu note-book sobre os joelhos, lá nos confins da Lapônia ou circunvizinhanças. Ou um aborígene australiano que acabou de chegar em casa depois de um longo passeio com seu canguru de estimação. Vou ler com mais freqüência o meu “livro de visitas” para ver se não colocaram nele nenhum protesto.

O patrulhamento é permanente e somos intimidados a aderir ao politicamente correto sob pena de passarmos a nos considerar, a nós mesmos, uns párias. A esse respeito, é bem característico o problema que tive, por muito tempo, com meu vizinho que morava no apartamento bem em frente ao meu. Convivemos por mais de vinte e cinco anos, depois que compramos nossos imóveis na mesma época. (Ih!... eu falei “imóveis”? Tomara que nenhum “deficiente físico” leia isto). Mas, como eu dizia, esse vizinho é Médico (assim, com letra maiúscula). Recentemente ele comprou outro apartamento (coisa “de loco”!) e se mandou, com a família, daqui do subúrbio. Sempre fomos amigos, mas ainda hoje fico indeciso quanto à forma de tratamento que devo lhe dispensar nos momentos de maior formalidade. Digo isto porque certa vez, em conversa com uma conhecida, que é enfermeira (assim mesmo, com letrinhas minúsculas, todas) esta se referia às atividades que exerce, incluindo-as entre as demais da área médica. Durante o diálogo (quase monólogo, na verdade), ela fez questão de enfatizar que todos são modernamente (re)conhecidos como “profissionais de saúde” e que este é o "modo correto" de chamá-los. Vocês precisavam ver o orgulho com que ela assim se denominava! Incrível, né? Como vou chamar, agora, o meu amigo Médico, que, segundo o que depreendi, é um “trabalhador em saúde”? 

Mas as coisas não param por aí. O que dizer, por exemplo, dos “trabalhadores em educação”? (Atenção, todas vocês, minhas primas e sobrinhas “trabalhadoras em educação”, e que são muitas). Acho que não vou dizer muito, pois se me atrevesse a tal, teria que continuar "no próximo capítulo". De qualquer modo, de repente senti uma saudade enorme da “minha” Professora (esta, sim, com todas as letras maiúsculas, caixa-alta, enormes, garrafais) dos remotos tempos de infância. Quanta saudade, “Dona Tila”! E dos Professores que nos apoiaram na fundação do CPM do Apeles, nos idos dos anos 1970/80... do século passado! E dos incontáveis Professores que passaram pelas nossas vidas e pelas vidas de nossos filhos, aos quais, todos dedicávamos venerável respeito, pois, mais do que Professores, eram justamente considerados Mestres.

Antes de continuar, preciso confidenciar a vocês uma coisa: antigamente eu era do sexo masculino, lembram? (Por favor, gente! Vamos com calma. Não façam pré-julgamento. Deixem-me explicar!).  

Como eu vinha dizendo, eu era do sexo masculino. Como meu pai, como os “vôs” e “bisos” e "trisos"... Minha mãe era do sexo feminino. E como! Assim como a minha sogra. Do mesmo jeito que suas mães, a minha vó, e demais avós, bisavós, tataravós, e minhas irmãs, tias, eram do sexo feminino. Então, chegamos onde eu queria: hoje, não temos mais sexo. De acordo com os costumes vigentes, pertencemos a “gêneros” – seja lá o que isto possa significar. Fala-se em gênero masculino, gênero feminino, gênero nem isto nem aquilo – ou isto e aquilo... Chocante, não parece? Ou apenas ridículo?

E, por aí, vai. Os agentes do “politicamente correto” transformaram o nosso modo de falar e estão, passo a passo, transformando o nosso modo de pensar, impondo-nos uma lavagem cerebral metódica e cientificamente programada. Colocam na nossa boca palavras que jamais, em tempo algum, pronunciamos. Mudam conceitos em nome da quebra dos preconceitos. Não nos dão folga em impor-nos cuidados redobrados e permanentes que nos obrigam a estar sempre monitorando o que vamos dizer ou escrever. 

Vocês conhecem alguém mais  arrogante, chato, irritante, e aborrecente do que “eles”?  Em nome das “minorias”, acusam-nos de sermos “maioria”. Por que, então, nós, como “maioria”, não somos respeitados? Justamente por isto: porque não somos minoria.  

O fato é que, a bem da verdade, não passamos, na atualidade, de “minoria”. Mas... neste caso, por que não nos defendem também, como “minoria” que somos? Quem nasceu primeiro – o ovo ou a galinha? Se existe a luz, por que não existe o escuro? Pelo menos não vi, ainda, nenhum estudo, nenhuma pesquisa, nenhuma tese sobre “o escuro”. Então, sou levado a crer que ele, o escuro, não existe. Ou existe!?...

Mas não é só no que se refere ao que eu disse acima, que a turma vidrada no “politicamente correto” bagunçou as nossas cabeças. Eles se metem em tudo. Tudo sabem, sobre tudo dão palpites e pareceres e sobre tudo impõem suas decisões. Até a geografia  foi objeto da sua sanha desmedida e insaciável. Acompanhem: aprendi, desde bem pequenininho,  que ilha era “uma porção de terra cercada de água por todos os lados”. Diferenciava-se bastante de lago, por ser este “uma porção de água cercada de terra por todos os lados”. Assim as águas de um lago eram estanques; não corriam nem para aqui, nem para lá, nem para acolá. Óbvio. Ululantemente óbvio, como acrescentaria Nelson Rodrigues se ainda andasse por aqui.   

Naquele tempo, quando se falava da nossa Porto Alegre, ficava claro que ela situava-se “à margem esquerda do Rio Guaíba”, ou seja, do nosso Rio Guaíba, que, sendo um rio, corria entre suas margens – uma à esquerda e outra à direita do sentido de seu curso, depois de se formar pelos seus afluentes e desembocar na foz junto à Lagoa dos Patos. Ou seja, um rio que como qualquer outro rio – pelo menos os que existem no Planeta Terra - tem uma origem, um curso e uma foz.

Pois não é que, num passe de mágica, por obra de alguma Maga Patalógika tupiniquim o Rio Guaíba se transformou em “lago” Guaíba? Assim, da noite para o dia. Num "plim!" Sempre detestei isto, desde que foi inventado e imposto como dogma que, se posto em dúvida, conduzirá o herege à fogueira. E não tenho dúvida em creditar tal aberração aos afinados com o “politicamente correto”. Afinal, eles não poupam nada no seu caminho. Para eles não há obstáculos. Tentam – e na maior parte das vezes, conseguem – recontar a história, trocar nomes, destruir fatos, desconstruir realidades incontestáveis e devastar tudo por onde passam. São os “átilas” contemporâneos. “Os Flagelos de Deus”. Será que um dia nos livraremos deles? Acho difícil, pois novos seguidores grudam-se a eles como carrapatos e proliferam mais do que baratas em esgoto ou aqueles vermezinhos nojentos que infestavam as latrinas de antigamente. Com o devido respeito, ressalte-se.

Bem, não é tudo, ainda. Mas acho que é um bom tema pra começar o novo mês que, em boa hora, vem substituir o fevereiro de 29 dias (este, pelo menos, não consta como sendo outra invenção “deles”. Pelo menos até que assumam a paternidade).

E quanto ao nosso – ou pelo menos ao “meu” Rio Guaíba – vou deixar para falar nele em uma próxima inserção. Se tiverem paciência, me aguardem.  

Vando 

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Ilustração: FOTOS ANTIGAS DE PORTO ALEGRE

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