O QUE DIZER?
Por uma eternidade ficamos frente a frente, sem palavras. A expectativa me angustiava. Até aquele momento eu tinha certeza de que, de uma vez por todas, os pingos nos "ii" seriam colocados devidamente. Agora, entretanto, que o instante havia chegado, simplesmente não sabíamos o que dizer. Apenas trocávamos olhares curiosos, desconfiados. Indecisão minha e dela. Parecia que nos estudávamos reciprocamente. Para que argumentos eu ainda poderia apelar, depois de tudo? Que confidências nos restava compartilhar? Por mais que eu pensasse não conseguia me abrir. Minha mente estava confusa. Mais que confusa, vazia. Nada que me inspirasse a sair daquele impasse.
Em sua pureza jamais maculada, ela continuava fitando-me. Desafiadora. Instigante. Esperava ansiosamente que eu tomasse a iniciativa. Ousei uma frase, que pronunciei num sussurro, para sentir como soaria. Saiu truncada. Terrível! Experimentei outra, mas o desastre foi inevitável: bem pior do que a primeira. A cada nova tentativa, novo fracasso. Achei melhor não usar aquele verbo transitivo direto que eu vinha guardando para alguma emergência. Apelei para uma metáfora, meio surrada, mas que talvez funcionasse. Mesmo assim a coisa desandou.
Tentei uma saída honrosa, mas, afinal, só me restava desistir. Era o que recomendava o bom senso e foi o que fiz. Ou que tentei fazer, pois num ímpeto quase incontrolável, amassei-a e depois de amarrotá-la sem piedade, joguei-a na cesta, embaixo da mesa, junto às demais folhas de papel.
Tentei uma saída honrosa, mas, afinal, só me restava desistir. Era o que recomendava o bom senso e foi o que fiz. Ou que tentei fazer, pois num ímpeto quase incontrolável, amassei-a e depois de amarrotá-la sem piedade, joguei-a na cesta, embaixo da mesa, junto às demais folhas de papel.
Vando
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