A FAMÍLIA

"É preciso fazer realmente todo o esforço possível, para que a família seja reconhecida como sociedade primordial e, em certo sentido, soberana. A sua soberania é indispensável para o bem da sociedade. Uma nação verdadeiramente soberana e espiritualmente forte é sempre composta por famílias fortes, cientes da sua vocação e da sua missão na história. A família está no centro de todos estes problemas e tarefas: relegá-la para um papel subalterno e secundário, excluindo-a da posição que lhe compete na sociedade, significa causar um grave dano ao autêntico crescimento do corpo social inteiro". (João Paulo II em “Carta às Famílias” / 2 de fevereiro de 1994)

01 outubro 2014

Comecemos com poesia

UM DIA, UMA HISTÓRIA

    Hoje é o primeiro dia do mês, mas veio-me à lembrança a data de 31 de outubro de 1981, coincidentemente o último. Quando a efeméride me ocorreu, achei que foi domingo, pois recordo que tinha sol. Aquele sol radiante que só acontece nos domingos de primavera da Praça da Alfândega, entre as palmeiras e os jacarandás floridos.  Mas me equivoquei nos meus cálculos: era um sábado!

    Na quarta feira, dia 28, havia iniciado a 27ª Feira do Livro de Porto Alegre. E, como até hoje fazemos desde mil novecentos e antigamente, andávamos, eu e a Nina, pela Praça, entre as "barracas", deliciando-nos com o cheiro dos livros novos e garimpando os balaios onde se encontram sempre agradáveis surpresas a preços ridículos, muitas delas com cheiros antigos. Principalmente nos primeiros dias da Feira, pois as preciosidades se esgotam logo. Nesse dia estavam juntos o meu filhote, Marcelo, então com sete anos, e minha cunhada, Maria, recém chegada de Santa Maria para passar uns dias com a gente. 

    Curtíamos a Feira, que era pura festa. Pelo alto-falante, ouvimos o anúncio dos autores e das personalidades presentes, entre os quais estava alguém que há muito eu considerava como pessoa da nossa família. Com freqüência nos encontrávamos na Rua da Praia, pelas imediações da Praça da Alfândega, na Livraria do Globo ou, eventualmente, em algum outro lugar. Nunca conversei com ele. Apenas cumprimentava-o, sempre que nossos caminhos se cruzavam: "Bom dia, Poeta!" – ao que ele me correspondia com um sorriso maroto, meio tímido, meio irônico, difícil de definir. Fazia tempo que eu devorava avidamente seus livros e até já sabia de cor alguns de seus poemas. Era um dos meus gurus, ao qual passei a dedicar um carinho muito especial. Seu nome - Mario Quintana!...

    Por uma dessas coincidências que só ocorrem em dias de suprema graça, tínhamos adquirido, poucos minutos antes, três de seus livros. Para mim comprei "Apontamentos de História Sobrenatural", da Editora Globo, editado em 1976, e "Pé de Pilão", da Garatuja, editado em 1975 para meu filho. Minha cunhada comprou “A Vaca e o Hipogrifo”, também da Garatuja, de 1979. Como a sorte nos sorria, não podíamos perder a oportunidade de conversar com o Poeta, de vê-lo, de conseguir um autógrafo. 

    Entramos na fila. Uma fila enorme. Chegada a nossa vez, trocamos breves palavras. Não falamos muito, pois atrás de nós se postava uma quantidade incalculável de admiradores ansiosos para que chegasse a sua vez. No meu livro, ele escreveu: "Para o Evandro Inácio uma lembrança muito amiga do Mario Quintana", e no "Pé de Pilão" sua caligrafia inesquecível deixou registrado: "Para o Flávio Marcelo, com um abraço do amigo velho, Mario Quintana". 

    Não lembro o teor do autógrafo que ele deu para a Maria, mas todos nós saímos felizes, realizados, pois mais do que uma lembrança ditosa que levaríamos para toda a vida, ganhamos o melhor presente que podíamos esperar, qual seja o de estar com o nosso maior Poeta, ainda que por um instante breve. Efêmero. De súbito!

Vando

* * *

Notas minhas:

(1) De súbito” – Expressão muito comum na obra do Poeta. 

(2) Em 29 de outubro de 1982, (32 anos atrás) Mario Quintana é agraciado pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul com o título de Doutor Honoris Causa.

Crédito / Foto - Liane Neves 

Nenhum comentário: