ANO NOVO
Que eu não esqueça, jamais, de agradecer
ao meu Deus pelos dons com os quais
fui gratuitamente dotado e de suplicar-Lhe
perdão pela forma negligente com que
me utilizo deles em favor
do meu próximo.
ao meu Deus pelos dons com os quais
fui gratuitamente dotado e de suplicar-Lhe
perdão pela forma negligente com que
me utilizo deles em favor
do meu próximo.
O Natal de Jesus ainda está sendo comemorado e já entramos na contagem regressiva para o novo Presente que, em dois ou três dias, nos será confiado. Esperamos muito por esse Presente: um novo ano que possa restaurar nossas esperanças e nos proporcionar mais algum tempo para que consigamos consertar os erros e estragos que fomos colecionando no caminho que chega ao fim.
Logo ele vai chegar e se entregará, solene, aos nossos cuidados. Com mãos trêmulas e olhos embaçados vamos desembrulhá-lo da embalagem colorida em que veio delicadamente acondicionado. Certamente virá cintilante, barulhento, anunciado por fogos de artifício, sob aplausos e invocações de boa sorte. Aportará aqui repleto de presságios animadores, depois das apreensões e expectativas que marcaram a sucessão de dias que está para se esgotar. Surgirá de um momento para outro – não inesperadamente, mas num átimo que torne o instante da transição imediato e indolor. Falta muito pouco para que surja diante de nós ainda boquiabertos, - apesar de termos tido a certeza de que viria - sem sabermos ao certo o que fazer com ele, tão novinho, recém saído do almoxarifado de Cronos.
Durante milhões de milênios esteve aguardando sua hora. Finalmente, dela se aproxima a cada segundo. O Ano Novo, com sua fisionomia simpática mas não definida de todo, olhar-nos-á espantado como quem encara surpreso uma paisagem inusitada onde aborígenes sibilantes estarão promovendo estranhos rituais.
O momento será de festa. De sorrisos. De brindes borbulhantes. Dançaremos e cantaremos. Alguns, muito provavelmente, nos recolheremos, por breves instantes, em silêncio e elevaremos preces fervorosas às divindades de nossas crenças, rogando bonanças. Outros extravasaremos a emoção até então armazenada, e num pranto contido, compartilharemos amplexos com os seres amados.
Em nossas mentes desfilarão as imagens que já passaram a pertencer, irreversivelmente, ao pretérito e nunca mais poderão ser resgatadas a não ser em devaneios e sonhos.
Promessas serão refeitas e novos planos traçados, na certeza de que desta vez todos os bons propósitos serão cumpridos; com a convicção de que a miríada dos sonhos acalentados, dissipados pelo caminho não mais acessível, se transformará, enfim, na mais jubilosa realidade.
Será tempo de rever conceitos. De avaliar o que valeu e o que não valeu a pena. De repensar os atos cometidos e redirecionar comportamentos.
Quanto às pessoas que me cercam não me cabe julgar nem interferir em suas novas metas. De mim, entretanto, posso assumir que vou me esforçar muito para reconstruir os caminhos dilapidados pela incúria, pois muitas foram as minhas impertinências que o ano velho levará consigo, relegando-as ao arquivo morto da eternidade onde permanecerão per secula seculorum como testemunhas silenciosas de minha passagem por este Orbe.
Desde já, proponho-me, sinceramente, que em 2015 tratarei com mais cortesia a telefonista que do outro lado da linha apenas cumpre com o seu dever e o garçom que demorou dois minutos a mais para servir o meu prato supérfluo. Que não promoverei mais nenhuma rinha pela vaga no estacionamento sob a alegação de que cheguei primeiro. Que saberei tolerar com bom humor os dias de frio e de chuva e não mais direi palavrões nem xingarei a humanidade quando a constante falta luz deixar de novo o meu computador inoperante e eu tiver que restaurar todo o seu sistema depois de perder arquivos importantes e fotos que jamais, em tempo algum, poderão ser refeitas. Ah!... e que procurarei fotografar mais pessoas do que flores e borboletas, mais gente do que paisagens e muros cobertos de musgo e de heras.
Renovarei a promessa de todos os anos que já se foram, de não mais dormir sem pedir perdão pelas mil faltas que cometi durante o dia. Que pela manhã, ao acordar, trarei na face o meu melhor sorriso de gratidão pela noite de sonhos e pela oportunidade nova que a vida me oferece para ser feliz e compartilhar esta felicidade com aqueles a quem amo muito e com aqueles a quem amo pouco - e principalmente com os que nem aprendi, ainda, a amar.
E se no final de mais esse ano tiverem restado outra vez, nas trilhas por onde andei, apenas montanhas de frangalhos e fragmentos rotos testemunhando a passagem de mais uma etapa que eu causei frustrada, que os deuses tenham de mim a compaixão necessária e não me neguem a condescendência de que estarei carente. Pois, apesar de mim e de tudo, um dia haverá novos tempos quando as faltas cometidas e os erros perpetrados serão remidos em definitivo, pois a Grande Lei assim decidiu que fosse.
* * *
A todos nós que conseguimos chegar até aqui com a consciência do dever cumprido, os votos de um feliz e próspero Ano Novo. E aos que ainda não alcançaram o sucesso almejado, que jamais falte a coragem, a palavra de fé, o incentivo fraterno e a esperança renovada de que a Vida renasce todos os dias e as oportunidades se multiplicam na mesma proporção em que os desafios se apresentam.
Para todos, enfim, que fique a Paz, a Harmonia e o Amor, este sim, indispensável e insubstituível.
Evandro Inácio / Ano Novo de 2015
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Crédito
Foto minha - Gramado, RS, feita no dia 20 Dez 2014
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