A FAMÍLIA

"É preciso fazer realmente todo o esforço possível, para que a família seja reconhecida como sociedade primordial e, em certo sentido, soberana. A sua soberania é indispensável para o bem da sociedade. Uma nação verdadeiramente soberana e espiritualmente forte é sempre composta por famílias fortes, cientes da sua vocação e da sua missão na história. A família está no centro de todos estes problemas e tarefas: relegá-la para um papel subalterno e secundário, excluindo-a da posição que lhe compete na sociedade, significa causar um grave dano ao autêntico crescimento do corpo social inteiro". (João Paulo II em “Carta às Famílias” / 2 de fevereiro de 1994)

02 dezembro 2010

A festa das vaquinhas

QUANDO SE VOLTA A SER CRIANÇA 

Foto minha - Shopping Borbon Country, 21-11-2010
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É engraçado como a gente, depois de adulto – e bem adulto! – corre o risco de sofrer uma recaída e, de repente, ver-se procedendo como se ainda estivesse com os seus saudosos “oito anos”, como Casemiro de Abreu tão bem interpretou em seus mais famosos versos.
Não, não se trata dos efeitos da senilidade, como pode parecer. Um fato, uma novidade, um evento qualquer pode desencadear, inadvertidamente, tal tipo de regressão. Freud explicaria?
Muitos de vocês – a maioria, certamente – não lembra quando corríamos junto dos carros que, em desfile de grande pompa, percorriam as ruas antigas, anunciando a chegada “a esta cidade” do “Gran Circo Isto ou Aquilo”. Nossos ouvidos embeveciam-se com os acordes da banda que sempre os precediam. Íamos juntos, marchando e dançando na tentativa de nos sincronizarmos com a música alegre e contagiante. Ficávamos encantados com os palhaços, as belas trapezistas, os mágicos, malabaristas, leões, tigres, elefantes e toda aquela magnífica e encantadora parafernália que atiçavam a nossa imaginação. Nossos olhos brilhavam e nossos corações aceleravam numa alegria que jamais conseguiríamos descrever.
Recentemente o evento intitulado “CowParade”, que se realizou em Porto Alegre, exerceu sobre grande número de pessoas idêntico estado de espírito. Foram quase dois meses em que adultos e crianças de todas – vejam bem: todas! – as idades encantaram-se com as graciosas e delicadas vaquinhas coloridas esparramadas por todos os quadrantes da Cidade. Não havia praça, rótula, cruzamento de ruas e avenidas, shoppings e lugares os mais inusitados, onde não se encontrassem as delicadas e artísticas esculturas em fibra de vidro, decoradas com temas que passeavam da literatura às viagens aéreas, da pintura à música, da ecologia, preferência clubística ou egiptologia, à astronomia, cibernética ou às “Histórias para Boi dormir”.
Não houve, talvez forçando um pouco a afirmação, quem não fotografou “as vaquinhas” ou se deixou fotografar junto delas para o álbum de recordações. Muitos fotografaram algumas, apenas, mas incontáveis foram os que tomaram a si o compromisso de fotografar todas as oitenta e uma “mimosas”, fazendo peregrinações diárias ou semanais de um recanto a outro da cidade, acompanhados da lista obtida no site e a câmera fotográfica sempre com pilhas novinhas ou bateria recarregada na véspera, para não perder nenhuma foto.
Eu fui um desses “caçadores de vaquinhas”. Comecei por brincadeira, aqui em Ipanema, com a “Serena, a Vaca Nadista”, de autoria de Marcelo Bohrer, quando passeava pelo calçadão. Depois descobri que havia outras, muitas outras, com a assinatura de Zorávia Bettiol, por exemplo, entre outras de peso em nosso universo de grandes artistas plásticos. Daí a sair perseguindo as demais foi um passo. Quando caí na realidade, já havia fotografado mais de quarenta. Então, decidi: vou fotografar todas. (*)
Encontrei obras de uma beleza indescritível, como a “Alegria Invernal” (1) , “A Vaca Alegre” (2), a “Miss” (3), “A Vaca de Ísis” (4), e “O Pensamento” – magnífica! (5) para citar só algumas das que me despertaram atenção especial. Mas uma coisa que sempre me chamou a atenção foi o brilho e o encantamento nos olhos das pessoas que rodeavam todas estas preciosidades incomuns. Era como se estivessem todos absortos em sonhos e fantasias, remetendo ao passado distante ou a um futuro fantástico a imaginação que emanava livre de cada alma ali reunida.
A “brincadeirinha” da CowParade foi uma coisa bonita que nos aconteceu nestes tempos tão ingratos que temos vivido entre o caos nos espíritos e nos corações, que nos assusta, amedronta, deprime e coloca em pânico sempre crescente as nossas existências. Acho que estamos carentes de muito mais vaquinhas em nossas vidas. Talvez os organizadores do evento jamais tenham percebido isto, mas devemos ser gratos a eles por terem conseguido nos proporcionar essas semanas de pureza e felicidade.
A grande festa das vaquinhas terminou ontem, com um leilão cuja renda será revertida em benefício de entidades carentes. Penso que não poderia ter sido de outra forma, pois a alegria e a ternura que essas belas peças nos trouxeram por quase dois meses, bem mereciam tal apoteose.
Fica-nos a saudade pelo privilégio de, por algum tempo, termos voltado à idade da inocência e dos sonhos, que talvez não se repetirá tão cedo. Quem viveu, viu. Sentiu e se emocionou.
Que venham mais vaquinhas! Como precisamos delas!...
Vando
* * *
(*) Fotografei oitenta, das oitenta e uma que participaram da exposição. Todas estão na página de “Nós Aqui”, no Orkut.
(1) "Alegria Invernal", autoria de Carol W., fotografei no Shopping Paseo Zona Sul;
(2) "A Vaca Alegre", autoria de Fernando Geisel Jr e Marina Geisel. Foto tirada na Usina do Gasômetro.
(3) "Miss", autoria de Flávia Giroflai, estava no Hall da Prefeitura Municipal quando a fotografei.
(4) "A Vaca de Isis", autoria de Leonardo Posenato. Barra Shopping Sul, Cristal.
(5) "O Pensamento" – minha preferida. Lindíssima. Autoria de Rodrigo Corrêa. Estava na Casa de cultura Mário Quintana.

Um comentário:

Anônimo disse...

Muito obrigado! E umn previlegio para mim e para minha vaquinha o pensamento ter você como abimiradora do Cowparade!Um grande abraço Rodrigo Corrêa