A FAMÍLIA

"É preciso fazer realmente todo o esforço possível, para que a família seja reconhecida como sociedade primordial e, em certo sentido, soberana. A sua soberania é indispensável para o bem da sociedade. Uma nação verdadeiramente soberana e espiritualmente forte é sempre composta por famílias fortes, cientes da sua vocação e da sua missão na história. A família está no centro de todos estes problemas e tarefas: relegá-la para um papel subalterno e secundário, excluindo-a da posição que lhe compete na sociedade, significa causar um grave dano ao autêntico crescimento do corpo social inteiro". (João Paulo II em “Carta às Famílias” / 2 de fevereiro de 1994)

28 abril 2015

Garimpeiros dos sonhos

MERCADO DE NOSTALGIAS 



     Manhã de domingo. Um domingo de sol, como todos os domingos deveriam ser. E como de hábito, estou no Brique. No Brique da Redenção. Percorrendo nostalgicamente as tendas repletas das coisas antigas que tanto me fascinam. 
     Nem sempre resisto à tentação de tocá-las leve e cuidadosamente. De segurá-las na mão e aproximá-las dos olhos, numa atitude instintiva de quem procura detalhes inusitados de algo que ficou perdido num tempo que longe vai.
     Aqui, vejo porcelanas decoradas com os mais delicados desenhos. Logo ali, cristais refletem os raios do sol matinal, produzindo, por sua refração, um incrível efeito de arabesco luminoso que não sei como definir. Ao lado, lustres compostos de centenas de pequeninas peças fitam-me pendentes de suportes estranhos. 
    Entre moedas e medalhas, bronzes e pratarias, vislumbro louças e vasos, abajures e telefones, câmeras fotográficas, estatuetas, esculturas, ânforas e quadros, relógios e discos de vinil. Também há jóias. Muitas. Colares. Pulseiras, brincos, anéis. Broches e camafeus. Ouro e prata, diamantes, esmeraldas e águas-marinhas. Que um dia foram utilizados rotineiramente, decoraram lares e ornamentaram senhoras elegantes.
    Atrás de um biombo repleto de brocatéis, lenços de seda e vestidos em finos tecidos, revejo, depois de muito tempo, pesado reposteiro, muito semelhante àqueles das casas de nossas bisavós. Encontro retratos amarelados e cartões postais da Porto Alegre provinciana da minha infância e de lugares mais distantes, na geografia e no tempo, como Estocolmo, Atenas ou Kioto dos tempos imperiais. E descubro revistas e livros. Em português e alemão. Em francês, italiano, espanhol e russo. Em chinês, japonês e esperanto. Primeiras edições. Raridades. Edições há muito esgotadas. História e política. Biografias e viagens. Crônicas, filosofia, ciências, romances, contos e poesia. Muita poesia!

    Ah, a poesia da praça!… A poesia da rua. A poesia do Brique. Traduzida em cores e formas. Poesia pura em formato de gente também antiga e de gente mais jovem que vem aqui para passear. Mas também para procurar. Para pesquisar. Para buscar. Na tentativa de resgatar do passado um pouco do que foi se perdendo pelo caminho e do que só restaram vestígios e vagos fragmentos dispersos.  

Vando 

Foto minha - outubro de 2014

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