DA GLÓRIA À DECADÊNCIA
Meu gosto pelos velhos casarões vem desde tempos remotos. Sou apaixonado por eles. Fico embevecido ante os detalhes de suas fachadas, frontões, platibandas, sacadas e gradis. Encantam-me as largas varandas, as portas entalhadas e as janelas com vitrais que contam histórias ou ostentam simples alegorias.
Diante deles tento imaginar a solene beleza dos salões revestidos com finas tapeçarias e espelhos do mais puro cristal. Visualizo os brasões de família e os quadros e esculturas formosas que um dia fizeram parte da decoração. Trago à mente os delicados lustres e luminárias que no passado os inundaram com a luz festiva dos bailes e recepções. Revejo-os no tempo em que conheceram a nobreza, a elegância e o esplendor. Foram épocas de requinte e romantismo, parte da vida e do comportamento aristocrático de uma sociedade efervescente de arte, bom gosto e refinamento.
Quem terá morado neles? O que faziam? Como era o seu cotidiano? Que trilhas percorriam? Que sonhos acalentavam? Como viveram? Como morreram? Foram felizes ou sofreram desilusões e fracassos tenebrosos? Quantas histórias de amor ou de intrigas, de dor e de alegria, deixaram gravadas nas paredes e nas antigas escadarias com corrimões adornados?!...
Então, quando me deparo com outros da mesma estirpe e que não tiveram a mesma sorte de serem preservados, volto a me questionar. Que motivo levou seus moradores ancestrais a abandonarem tais preciosidades? Por que estes foram condenados à destruição inapelável, abatidos que serão, com certeza, pela ação implacável do tempo?
Observo os vestígios de sua antiga suntuosidade. Mas vendo-os assim, tão próximos da ruína total, entristeço-me ao perceber neles a tentativa inútil de fugir à fatal derrocada. Parece-me que ainda lutam por uma sobrevida, em busca da qual teimam em resistir. Todavia, o destino está selado.
Compartilho com eles um sentimento de profunda melancolia. O fim se aproxima célere e logo se transformarão em escombros. Em pouco tempo deles nada mais restará. Apenas a saudade. Talvez...
Vando
* * *
Foto: Minha, feita em Garibaldi, RS, em 2012
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