LACONISMO OU PROLIXIDADE?
Aonde,
mesmo, eu queria ir?!...
É
isto. Sou um escritor amador. Ah, vocês já sabiam? Esqueci. Então me conhecem. Que
bom! Sabem como escrevo. Já avaliaram o meu estilo. Pois bem. Detesto
lugares-comuns. Adoro figuras de linguagem. Gosto de frases curtas.
Polissilábicas – no mais das vezes. Monossilábicas, minhas preferidas – quando
possível. "Poucossilábicas" – se não há
outro jeito. E geralmente não há.
Lembro-me
de que uma das primeiras coisas que aprendi foi cultivar a linguagem “clara,
precisa, concisa”. Isto é: lacônica. Considerar o pleonasmo como pecado
capital. Usar só as palavras certas. Exatas. Economia para dizer muito. Ou
tudo.
Exageros
à parte, o resumo disto não deixa de ser verdadeiro. Contudo, é difícil. E
como! Nem sempre é possível. E já explico. Sei que vão entender.
Eventualmente,
em face da minha inata incapacidade de síntese contra a qual venho há anos
travando cruentas lutas, escaramuças, embates, batalhas, guerras – terríveis! –
torno-me prolixo, perdendo-me pelos labirintos fascinantes, mas insondáveis e
tenebrosos, autênticas armadilhas sempre dispostas dissimuladamente nos ângulos
mais obscuros e traiçoeiros do tema que me proponho desenvolver, principalmente
quando assumo o risco de dissertar acerca de assuntos cujo domínio nem sempre
faz parte do meu próprio cabedal, o que me conduz a perder o fio da meada, a
misturar alhos com bugalhos e afastar-me cada vez mais da saída, e nos quais
termino por me enredar de tal forma que em determinado instante entro em pânico
por não mais vislumbrar qualquer luz no fim do túnel e me obrigo a lançar mão
de jargões surrados que indiquem a possibilidade, ou me acenem com ela, mesmo
sabidamente remota, de chegar a algum consenso sobre o que eu pretendia,
realmente, dizer e não disse, ou na vã esperança de que algum ser angelical, pretensamente
meu anjo protetor – não um trapalhão e humilde, embora bem-intencionado Anjo
Malaquias, que certamente assessora até hoje o meu guru Quintana, – desça dos páramos
celestes com a missão urgentíssima de me inspirar, safando-me, de uma vez por
todas, da enrascada em que deliberadamente me envolvi mesmo sabendo dos riscos
que corria de não chegar a nenhum lugar, culminando, na aventura desastrada, sitiado
por orações impiedosas, imprecisas e desconexas, acrescidas de travessões e
parênteses, vírgulas e mais vírgulas, sem perspectiva de encontrar um ponto e
vírgula extraviado entre dois vocábulos, algum ponto de apoio, e menos ainda o
tão ansiosamente desejado ponto final que sirva como sinalizador de que tudo
terminou bem explicadinho. Ufa!... Consegui concluir o meu raciocínio, viram? Compreenderam
direitinho?
Então, já que não ficou nenhuma
dúvida, sinto-me gratificado. Vocês foram geniais! Estou emocionado diante da
sofreguidão com que degustaram esta maravilhosa página literária.
Para recompensá-los, prometo que
em breve voltarei com nova obra-prima que lhes sirva de enlevo num dia encantador
como o de hoje – meio outono, meio inverno, frio e chuvarento, bem do jeito que
uma porção de gente adora só pra me contrariar. Entre elas, alguns de vocês,
não é?
Pois é!
Vando
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