PRIMEIRO DE ABRIL
Vinte e cinco por cento do ano de
2011 já foram pro brejo. Agora chegamos triunfalmente ao mês de abril, ou mais
precisamente, ao dia Primeiro de Abril. Então, lembrei-me que este é o
tradicional DIA DA MENTIRA.
Não podemos esquecer que o
primeiro de abril é um dia especial, bem ao nosso gosto, caracterís- tico do "jeitinho" que temos cultivado desde os 1500, e que
precisa ser comemorado e levado a sério. Ele nos conduz a reflexões profundas e
nos propõe uma tomada de posição. Acho que ele deveria ser nome de rua. De escola
pública. De pracinha de bairro. Ganhar um monumento. Muitos monumentos. Ser
feriado nacional. Afinal, mais um feriado, que diferença vai fazer?!...
É!... Parece uma boa idéia! Feriado nacional, com desfiles de pessoas alegres portando, desfraldadas, suas bandeiras multicoloridas e tremulantes. Com festinhas pra criançada nas ruas, avenidas, alamedas, becos, vielas, marquises, sob os viadutos, nos colégios, nas quadras esportivas. Com apresentações folclóricas e culturais, com muita capoeira, hip hop, funk, rape e outras danças tradicionais que tão bem retratam este povo divertido e brincalhão, sempre feliz com suas bolsas periodicamente reinovadas... Com palestras de personalidades convidadas – temos tantas!... – e distribuição abundante de títulos de doutores honoris causa aos que fizerem as melhores piadas ou contarem as maiores mentiras sobre temas sorteados na ocasião. Que tal? Seria uma bela iniciativa e, com alguma criatividade, a programação poderia ser bem extensa e variada.
É!... Parece uma boa idéia! Feriado nacional, com desfiles de pessoas alegres portando, desfraldadas, suas bandeiras multicoloridas e tremulantes. Com festinhas pra criançada nas ruas, avenidas, alamedas, becos, vielas, marquises, sob os viadutos, nos colégios, nas quadras esportivas. Com apresentações folclóricas e culturais, com muita capoeira, hip hop, funk, rape e outras danças tradicionais que tão bem retratam este povo divertido e brincalhão, sempre feliz com suas bolsas periodicamente reinovadas... Com palestras de personalidades convidadas – temos tantas!... – e distribuição abundante de títulos de doutores honoris causa aos que fizerem as melhores piadas ou contarem as maiores mentiras sobre temas sorteados na ocasião. Que tal? Seria uma bela iniciativa e, com alguma criatividade, a programação poderia ser bem extensa e variada.
E como a data propõe, vamos sair por aí mentindo. É. Vamos mentir. Muito. De todos os jeitos e, se possível, com a veemência de quem está
defendendo a mais cristalina e sacrossanta de todas as verdades. Com a maior desfaçatez e mais deslavada cara de pau. Será que estamos dispostos a deixar
passar tal oportunidade para entrar na onda e deixarmos de vez a ilusão de sermos diferentes?
Afinal, com verdades verdadeiras, honestidade e firmeza de caráter, como vínhamos tentando sobreviver, não vamos resolver nada, mesmo!... Já vimos que não dá certo, portanto só nos resta aderir. Jogarmo-nos de cabeça; de corpo e alma. Mais de corpo do que alma, pois esta já está perdida. E já que estamos numa sinuca de bico, mesmo, temos que optar. Oba-oba prá todo mundo!
Alguém ainda lembra do tempo em
que ser correto, decente, sincero, era a norma? Pois esse tempo já passou. Pertence à história (pesquisando-se
ainda se encontram raros registros esparsos) e esta, a história, é contada – e reescrita, tanto
quanto for necessário - de acordo com as conveniências do momento. Não podemos mais viver de saudades. Temos que ser progressistas, tirar vantagens, ludibriar, blefar, revermos e atualizarmos os nossos conceitos já tão retrógrados, definitivamente ultrapassados. Ser politicamente
corretos é o canal.
Por que não aproveitar a data para entrar, de vez, nesse grupo cada vez maior e tão seleto dos mentirosos? Mas dos mentirosos de verdade, quero dizer. Não daqueles de mentirinha, que mentem por brincadeira, porque não têm mais o que fazer. Nunca antes nesse país se mentiu tanto, nem tão descaradamente. Virou moda. Caso de sobrevivência. Questão de honra!... Assim, vamos mentir também. Desbragadamente. Sem quaisquer resquícios de pudor ou constrangimento. O restinho de vergonha que ainda tínhamos, e que pretendíamos transmitir aos nossos pósteros, que se dane!
Por que não aproveitar a data para entrar, de vez, nesse grupo cada vez maior e tão seleto dos mentirosos? Mas dos mentirosos de verdade, quero dizer. Não daqueles de mentirinha, que mentem por brincadeira, porque não têm mais o que fazer. Nunca antes nesse país se mentiu tanto, nem tão descaradamente. Virou moda. Caso de sobrevivência. Questão de honra!... Assim, vamos mentir também. Desbragadamente. Sem quaisquer resquícios de pudor ou constrangimento. O restinho de vergonha que ainda tínhamos, e que pretendíamos transmitir aos nossos pósteros, que se dane!
Além disto, já está mais do que
comprovada a tese de que a mentira, quando repetida milhares de vezes,
insistentemente, seja através de livros, revistas, folhetos, out-doors e jornais, do rádio, da TV, da internet ou do simples
boca-a-boca com os amigos e conhecidos - este último o meio mais eficaz de todos, pois são raros os que ainda lêem,
poucos os que escutam rádio, menos ainda os que assistem TV além dos quatro “B” (BBB e Baú) e uma minoria assustadora dos
que acessam a web com objetivos mais nobres - essa mentira, eu dizia, termina sendo aceita como verdade. Verdade suprema, insofismável. Dogma
de fé que, se contestado ou posto em dúvida por algum incauto, o conduzirá fatalmente ao fundo
do caldeirão efervescente de enxofre onde sempre cabe mais um. Depois, aceitando a verdade,
o que temos a temer?
Então, minha gente, vamos dar as mãos e sair por aí rodopiando alucinadamente, numa ciranda
imensa, frenética, descomunal, para, enquanto mentimos aos quatro ventos, - aos berros ou apenas sussurrando num balbucio ainda meio tímido, pra começar - comemoramos esta data festiva. Façamo-lo convictos. Sem titubeios. Só temos a ganhar.
Fica aí a sugestão.
Vando
* * *
Ilustração: Pinóquio e o Grilo Falante, personagens criados por Carlo Lorenzini, pseudônimo CARLO COLLODI (Florença, Itália, 24-Nov-1826 - 26-Out-1890)
Surrupiei do site de MARISA ESCRIBANO. É verdade. Juro.
Surrupiei do site de MARISA ESCRIBANO. É verdade. Juro.
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