Vida é um projeto?
Luís Afonso Assumpção
O ser humano não é uma mosca
drosófila gigante. Viver para simplesmente sentir o que pode ser sentido,
"aproveitar" o que cada época nos proporciona, não deve ser nosso
único objetivo. Nosso real objetivo é a eternidade.
Uma das características mais marcantes
da vida moderna é a sua evanescência diária. Não somente somos nós mesmos que
envelhecemos, mas tudo a nossa volta desbota e perde a graça em questão de
pouco tempo.
Nada é feito para durar. "No
futuro, todos serão famosos por 15 minutos", dizia Warhol, numa evocação à
Wilde, acertadamente. Não que Warhol fosse um gênio, mas simplesmente que ele
sabia para que lado o vento soprava, e deixou-se levar.
Tudo à nossa volta é efêmero. Os
assuntos são efêmeros. Os produtos são efêmeros. O sentido de eternidade da
raça humana parece ter sido varrido da existência. Não buscamos o eterno, o
belo em si mesmo, o sublime, mas o "up-to-date", o que é
"trendy" e todos os termos racionalmente ocos que enchem as vitrinas
culturais da atualidade.
A explicação oficialmente aceita
para este estado é que o homem percebeu no século XIX que não era mais um
reflexo da imagem de Deus, mas simples produto de uma "evolução" (ou
upgrade de fábrica) da matéria, igualzinho aos ratos, chimpanzés e tatus-bola.
A partir deste ponto o homem deixa de olhar para a eternidade como seu porto de
chegada e passa a combater os ponteiros do relógio contra seu curto reinado
temporal.
A modernidade centra-se nestas
duas vertentes: O conceito de "evolução", concluindo que o que é mais
novo é melhor, pois é mais avançado em termos evolucionistas. O conceito de
evolução é transportado sem filtros para dentro da cultura e pronto. As bases
da alta cultura foram derrotadas.
A técnica passa a ser a base
"cultural" da modernidade. A ciência é o novo Prometeu que roubou
para o ser humano o dom do conhecimento, e com o conhecimento o homem pode construir sua própria
felicidade, sem intercessão divina. Não mais
interessa conceitos antigos e demodeés
como "moral" ou "justiça", o que é mais novo é o melhor.
Ponto final.
Segunda fase: passa-se às
gerações mais jovens o controle da cultura. Na metade dos anos 50, surge nos
Estados Unidos o protótipo da cultura jovem que irá estabelecer-se pelo resto
do mundo. Nos anos 60 é radicalizado ao máximo. "Não confio em ninguém com
mais de trinta anos" é o mote da época.
Terceira fase: o modernismo
"morre". Afinal a ciência não pode, ela mesma, garantir "paz e
segurança". O século inaugurado pelo signo da modernidade encerra com o
saldo de duas guerras mundiais seguidas. Mas o homem não desiste. Ao invés de
voltar e reconhecer o erro, inventa a "pós-modernidade", que é
simplesmente a negação da racionalidade e da própria existência por assim
dizer.
O resultado disso é que a Vida
agora é simples vida. Efêmera e volátil, sem grandes esperanças, caótica,
darwiniana luta do mais forte, agora transfigurada pelo "mais
moderno": vença quem tiver o I-Phone 5.
Mas eu não concordo. O ser humano
não é uma mosca drosófila gigante. Viver para simplesmente sentir o que pode
ser sentido, "aproveitar" o que cada época nos proporciona, não deve
ser nosso único objetivo. Nosso real objetivo é a eternidade. Por que somos
eternos, no sentido de que nada, nem ninguém que tenha existido pode virar "nada".
Mesmo que não estejamos mais aqui para testemunhar, nossa história estará. Por
isso que a Vida tem de ter um projeto. E ela tem. A nossa grande missão é
aprender sobre ela.
* * *
Luís Afonso Assumpção edita o
blog NADANDO CONTRA A MARÉ VERMELHA
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Transcrevi do site MÍDIA SEM MÁSCARA
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