A FAMÍLIA

"É preciso fazer realmente todo o esforço possível, para que a família seja reconhecida como sociedade primordial e, em certo sentido, soberana. A sua soberania é indispensável para o bem da sociedade. Uma nação verdadeiramente soberana e espiritualmente forte é sempre composta por famílias fortes, cientes da sua vocação e da sua missão na história. A família está no centro de todos estes problemas e tarefas: relegá-la para um papel subalterno e secundário, excluindo-a da posição que lhe compete na sociedade, significa causar um grave dano ao autêntico crescimento do corpo social inteiro". (João Paulo II em “Carta às Famílias” / 2 de fevereiro de 1994)

30 setembro 2012

Consultemos os poetas



“...daqueles que fazem muita diferença em minha vida, pois ficaram em um passado que de repente virou presente e agora futuro, (...) mas a história de cada um de nós toma rumos diferentes que muitas vezes foge ao nosso controle...” (Adroaldo, Guarulhos, SP, 20 Set 2012)
NEM FELINO NEM CANZARRÃO
Tempos atrás, em uma de minhas postagens, fiz referência a um trecho de crônica, antiga, que escrevi, não lembro bem a data. Recordo apenas o motivo que me moveu enquanto o redigia. Eis o trecho: "O passar dos anos propicia-nos uma vantagem: ter o que contar sem precisarmos ser (muito) saudosistas, escravizando-nos ao passado. É bom sentir saudade, mas ela tem que ser uma evocação suave, alegre e, tanto quanto possível, divertida. E ser contada com algum humor e até ironia, mesmo nas passagens que mais nos tocam - não importando quão profundamente".
É uma pena que eu não recorde quando e onde publiquei a crônica completa. Mas devo ter o original gravado em algum CD decrépito que, de repente, numa de minhas próximas garimpagens, terminarei por reencontrar. Sei que escrevi isto num dia em que os leucócitos de meu astral estavam meio-bastante em baixa, o que pode ser percebido nas entrelinhas. Nessa ocasião eu recordava antigos tempos de adolescência na Vila do IAPI, e evocava episódios e gentes que naquelas longínquas eras compartilharam comigo as mesmas trilhas e alguns brejos e que, com o decorrer dos anos, sumiram, luarizaram-se, deixando lacunas que nunca foram preenchidas e jamais o serão. O texto pode parecer contraditório, mas foi um artifício consciente de que me utilizei para atenuar o banzo que eu estava sentindo.
O que tem isto a ver com o dia de hoje? Sinceramente, não sei. Penso que há em comum entre ele e esta data a saudade. Apenas a saudade. Esta sim está presente na vida de cada um. Em todo momento, independente do dia e da hora. Vez por outra, emerge de nosso subconsciente, e nos causa sentimentos frequentemente paradoxais. Às vezes nem sabemos bem por que - ou de que - sentimos saudade. Do que fomos, talvez? Do que tivemos e não temos mais? Das pessoas que passaram pelas nossas vidas e nos deixaram, ou que nós deixamos? Do que gostaríamos de ter vivido e não vivemos? Do que não fomos e gostaríamos de ter sido?...
Ela – a saudade – seguidamente nos sitia e o faz de modo repentino. Nem estávamos pensando nela quando, num átimo, vemo-nos assolados. Ela não tem, ao menos, a sutileza da aproximação cautelosa, lenta, cuidadosa, premeditada. Quando chega atinge-nos em cheio, sem constrangimentos ou recato. Tal investida pode ser comparada com a atitude de certos animais de estimação que todo mundo tem em casa: a do gato, que quando quer afago, se aproxima manso, calmo, silencioso e a do cão – seja cãozinho ou canzarrão – que se atira sobre a gente com o ímpeto de um bólido deslumbrado. Pois a saudade é assim. Ou quase, tendendo muito menos para o felino e muito mais para o nosso pitibulzinho particular.
Saudade! É um sentimento incoerente. E, por isto mesmo, difícil de administrar. O problema é que precisamos estar preparados para conviver com ela. E nos esforçarmos para domesticá-la, quando ela chega – e vai chegar! - tornando-a doce, de modo a transformar-se em boa companheira, ou pelo menos numa parceira tolerável. Se não lograrmos tal sucesso, ela se configura simplesmente insuportável. Um verdugo implacável. Ou, na melhor das hipóteses, uma velha rabugenta, ranzinza, que nos traz desconforto e mal estar. Aqui, cabe perfeitamente a máxima tradicional: se não podes vencer o inimigo, alia-te a ele. Na verdade, esta máxima me parece um atestado público de frouxidão. De burrice.  Não sei quem teve a ideia de tal disparate – nem se algum imbecil disse, realmente, tal coisa nem em que circunstâncias. Mas devo ter lido em algum lugar e agora que me veio à mente, e na falta de outra melhor, aproveito para utilizar aqui.
Bem, eu podia continuar falando mais um pouco de saudade, pelo menos sobre a saudade que mais de perto conheço. É um tema interessante para ser desenvolvido. Entretanto, se eu ousasse fazê-lo, correria o risco de me perder em divagações e devaneios sem qualquer sentido, que além de não levarem a nada poriam a perder o que já escrevi . Assim, o bom senso me recomenda que eu finalize enquanto é tempo.
Para não terminar bruscamente, permitam que eu me socorra de meu guru, Mario Quintana, o meu poeta, surrupiando dele o que escreveu sobre a Saudade, e que transcrevo, agora, do livro “Caderno H”, Ed. Globo, Porto Alegre, 1977, página 99, de minha biblioteca, que devo continuar publicando nos próximos dias em meu outro blog “SAPATOS E CATAVENTOS”. Ninguém melhor do que os poetas para falarem sobre saudade. Vejam:
“A saudade que dói mais fundo – e irremediavelmente – é a saudade que temos de nós.”
Vando
* * *
Foto: Acervo familiar / Evandro (três anos) e Luzia (um ano) - Praça Guia Lopes, Teresópolis, 1943

Nenhum comentário: