O POETA DO MAR DA BAHIA
“Mar, metade da minha alma é feita de maresia”
Sophia de Mello Breyner Andresen
(Porto, 6 Nov 1919 – Lisboa, 2 Jul 2004)
Abril está chegando ao fim e até
agora não escrevi nada que pudesse ser aproveitado para publicar aqui. De
repente, lembrei-me do verso em epígrafe, que li em algum lugar de minhas
andanças. Por uma associação de idéias, veio-me à mente outra pessoa que
dedicou sua vida a compor poesias para o mar e que, coincidentemente é
relembrado pela passagem do centenário de seu nascimento. Trata-se de Dorival
Caymmi.
Evocando este poeta, compositor e
cantor de extrema sensibilidade, também lembrei de outra frase, lida ou ouvida
não sei onde – mas há muito tempo – que dizia mais ou menos isto: “o mar estava
tão caymmi que o náufrago morreu
feliz”. Não me perguntem o autor, porque não sei. Apenas guardei de memória e
agora surge a oportunidade de reproduzi-la.
Pois bem. Falemos, então, deste artista que colecionou fãs de todas as idades, em todos os lugares do Brasil e de outras partes do mundo, numa vida que durou mais de 94 anos. Dorival Caymmi nasceu na Cidade de Salvador, BA, no dia 30 de abril de 1914. Sua inspiração eram os costumes e tradições da Bahia, sua terra natal, quando falava de amores, de saudades e do mar, que foi tema de muitas de suas composições. Quem não lembra de versos como este: “o mar quando quebra na praia é bonito, é bonito”. Ou de quando ele falava dos pescadores, de seus sonhos, de suas dores, de suas vidas mescladas de trabalho rude e de romance: “o pescador tem dois amores, um bem na terra, um bem no mar...” e tantos outros?
Caymmi foi pura poesia.
Dedicou-se também à pintura, com a qual revelou ao mundo seu talento pictórico.
Mas foi como músico e compositor que teve destaque e como será sempre
conhecido. Dentre as diversas composições que nos legou, temos "Samba da
Minha Terra", “Suite dos Pescadores”, “O Mar”, "Marina", "Samba da Bahia",
"O Dengo Que a Nega Tem", “Maracangalha”, "Saudade de
Itapoã", “Prece ao Vento”, “Saudade
de Bahia”, “Doralice”, “Modinha para Gabriela”, “Rosa Morena”... numa mistura
saborosa de sons, romantismo, acordes, rimas, preces telúricas e de todos
aqueles ingredientes “que só a Bahia tem”, incluída, naturalmente, a maresia da
qual sua alma, certamente, era composta em bem mais do que a metade, como se
descreveu a si própria a poetisa portuguesa.
Caymmi faleceu no Rio de Janeiro,
RJ, no dia 16 de agosto de 2008, mas continua vivo na memória e no carinho que
seu número incontável de admiradores lhe dedica, sendo merecedor de todas as
homenagens que lhe estão sendo prestadas nesta data que marca o centenário de
seu nascimento.
Vando
* * *
Foto: Evandro Teixeira – no blog "TALENTO E ARTE"
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