A FAMÍLIA

"É preciso fazer realmente todo o esforço possível, para que a família seja reconhecida como sociedade primordial e, em certo sentido, soberana. A sua soberania é indispensável para o bem da sociedade. Uma nação verdadeiramente soberana e espiritualmente forte é sempre composta por famílias fortes, cientes da sua vocação e da sua missão na história. A família está no centro de todos estes problemas e tarefas: relegá-la para um papel subalterno e secundário, excluindo-a da posição que lhe compete na sociedade, significa causar um grave dano ao autêntico crescimento do corpo social inteiro". (João Paulo II em “Carta às Famílias” / 2 de fevereiro de 1994)

09 agosto 2012

Presença e permanência

DIA DOS PAIS
No ano passado, em 13 de agosto, escrevi sobre o “Dia dos Pais” e publiquei aqui no blog, destacando a figura de meu próprio pai que ainda hoje continua sendo a minha maior referência. Não consigo me imaginar se a sua presença não tivesse sido constante e influente na minha vida.
Agora, ao celebrarmos mais um Dia dos Pais, volto ao tema, tentando outro enfoque sem deixar, de todo, de continuar prestando a ele, o “seu Romeu”, a minha reverência.
Torna-se repetitivo dizer que falar sobre pais é difícil, particularmente quando temos o objetivo de lhes prestar homenagem sem utilizar o lugar comum, as frases pré-fabricadas, os textos já conhecidos e surrados.
A tarefa é meio árdua. Mesmo assim, podemos tentar. O mais trabalhoso, penso, é começar. Encontrar a palavra exata, alinhavar as primeiras ideias e construir a oração coerente com as quais queremos desenvolver o assunto. Neste sentido a primeira palavra que me ocorre é permanência 
Por que permanência? Acho que é porque se opõe a instabilidade, a efemeridade, a algo inconstante e passageiro. Sim. Parece-me que ser pai exige permanência. Constância. Persistência.  
Paternidade não se extingue. Não se rege por prazo de validade, que uma vez vencido perde o sentido e cessam seus efeitos. Ser pai é para sempre. Exige estabilidade. Não depende de sermos pobres ou abastados. Não importa a idade que temos e a idade que os filhos já capitalizaram. A preocupação do pai e sua dedicação, seus cuidados e atenção para com a prole se estende pelo decorrer da vida e vai além dela.
Não, não pensem que eu defendo a criação de filhos parasitas e superprotegidos. Mesmo que quando pequeninos os ensinamos a soltar pandorgas e a andar de bicicleta segurando-a, apesar das “rodinhas”, com o passar dos anos eles têm que vencer pelo esforço próprio. Pelo trabalho árduo, se isto for preciso – e no mais das vezes é. Precisam enfrentar as turbulências e aprender como se safar das situações de risco. Só assim conseguirão dar valor a si próprios e a cultivar a autoestima. Isto não significa que devamos abandoná-los à própria sorte. Precisamos estar sempre atentos e prontos a estender-lhes a mão no instante requerido e a ajudarmos a levantar quando as quedas são inevitáveis.
Os filhos, por mais que evoluam, que cresçam profissional, econômica, financeira, material e espiritualmente, sempre precisam de nós. Há cuidados que não podemos, de modo algum, lhes sonegar. Adultos que sejam – ou aparentem ser – a nossa palavra amiga, a confiança, o reconforto, o compartilhamento de vivências, a solução para um problema inesperado, o apoio moral, jamais lhes poderá faltar.
Suponho felizes os pais cujos filhos, em sua totalidade, atingiram patamares de independência e autonomia que lhes permitem administrar a vida sem maiores percalços. A prática, porém, demonstra que nem sempre este padrão é a norma vigente. Cada filho é único. Individual. Tem características próprias que o distingue dos demais. Com faculdades e talentos inatos, seu ritmo e cadência particulares, ele ou se sobrepõe em progresso aos irmãos, ou experimenta seguidos insucessos, continuando, mesmo depois de muitos anos, em busca da evolução almejada. Uns e outros precisam sempre de apoio, pois não podemos nunca descartar as contingências. E um dos maiores apoios que podemos lhes dar é a presença. Presença oportuna, sem intervenção e sem assumir como nossos os compromissos que só a eles pertencem. É uma equação complicada, cheia de variantes, mas temos que desenvolvê-la e chegar à solução. É nosso dever moral que a ninguém podemos transferir.
Mas... – não podia faltar o “mas”! – permanência não é sinônimo de eternidade. Amanhã, ou dentro de alguns anos, nossa presença física já era!... E aí? Como é que fica? Continuaremos presentes, certamente, embora apenas na lembrança destes filhos que, sem eles, não teríamos sido pais.  
E que importância terá essa lembrança? Muita. Com certeza, muita. Teremos transferido para eles um patrimônio que “nem os ladrões conseguirão roubar nem as traças destruir”, aludindo, com humildade e talvez com pouca propriedade, à lição que o Irmão e Mestre Inigualável nos propôs.  
Nosso exemplo que eles por certo vão assimilar, nosso amor e nossa dedicação que eles, seguramente, saberão reproduzir e transmitir aos seus filhos, continuarão sendo, ainda que apenas para alguns deles, fonte inesgotável de inspiração e a certeza de que nunca estiveram sós.
Nossa missão terá sido cumprida e eles poderão se referir a nós, dizendo, de cada um, sem pejo: ELE FOI MEU PAI.
Vando
* * *
Foto: Ignoro o autor. Encontrei no blog

Um comentário:

Diego GF disse...

Oi, Evandro!

Belo e excelente texto!

Num mundo tão complicado, violento, traiçoeiro, desumanamente competitivo, nossos pais gostariam, se pudessem, de nos proteger a vida toda.

Mas, infelizmente (pra nós, filhos, e pra eles, pais) não é possível fugir do mundo pra sempre, sem tê-lo que enfrentá-lo sozinho, algum dia.

Há, porém - como bem citaste - as contingências...rs Cada família sabe das suas.

Feliz Dia dos Pais!

Tudo de bom a ti e à família!