REFLEXÃO PRA PASSAR O TEMPO
Com este frio que anda fazendo dá
uma saudade enorme do verão. Ah, dias quentes, luminosos, alegres!...
Cervejinha “no ponto”, comidinha leve – um sirizinho aqui, um camarãozinho
acolá, um caldo de cana pra contrabalançar... Tudo isto lembra praia, não é?
Pois é. Pra ser bem sincero, eu gosto mesmo é de calor. Do verão. Por pior que
seja. Praia, na verdade –verdadeira – não é bem “a minha praia”. Claro que não desgosto.
Mas daí a julgar que sou apaixonado insere-se alguma distância. Até vou, curto
uma que outra onda, alguma caminhada pela areia, mas tudo muito comedido.
A “temporada de praia”, pra mim,
resume-se a três momentos. Cada um com a sua peculiaridade.
O primeiro é o da preparação para
a praia. A expectativa. Fazer a revisão no carro. Arrumar as tralhas. Separar
aquele monte de roupas que não se vai usar. Examinar o extrato bancário e os
cartões de crédito pra evitar surpresas.
O segundo momento – este, sim, é
glorioso! O pegar a estrada propriamente dito. De manhã, bem cedinho, pra
curtir o nascer do Sol, o frescor da manhã e fugir dos engarrafamentos na Free-Way.
O problema é que todo mundo pensa a mesma coisa e termina saindo no mesmo
horário!... Mas, como férias são férias, tudo é festa. Vidros do carro semiabertos deixando “entrar um
ventinho”. Nossos semblantes revelando um estado de graça que beira o divinal.
À frente, a estrada estendendo-se ao
infinito. A imaginação liberta, permitindo-nos
antever o paraíso do qual, quilômetro após quilômetro, mais se vai
avizinhando. Ah, e o palavrão pro motorista da frente que de repente resolve
entrar no belvedere e dá uma tremenda freada sem avisar. E depois de algumas
horas de estresse, a praia, enfim!
Reunir a família. Reencontrar os
amigos. O churrasquinho amigo, o jogo de bocha no final da tarde, a canastrinha
à noite, o bingo no clube... e, por fim, dormir ouvindo o mar. Pra que mais?
O terceiro momento é que, via de
regra, se torna doloroso. Muitas vezes tem um epílogo tragicômico. Em mais da
metade dos dias choveu. Fez um frio desgraçado. A mulher aproveitou pra ir às
compras, procurando um casaquinho porque, na vinda, achou que não ia precisar. Aí
encontrou uma feira, cheia de novidades. Cada vestidinho mais lindo do que o
outro. E as bolsas, então? Um amor! Ah, e os sapatos, que gracinha!
Depois de arrumar as mochilas,
vemos que o porta-malas do carro não comporta tudo o que se comprou de “novidades”.
Empurra-se de qualquer jeito e vamos em frente. O retorno é sem graça. Chato. Cansativo.
Agora faz calor e o ar condicionado não resolve nada. E tem sol. Um baita dum
solzão... pegando de frente bem na nossa cara. A fila imensa de veículos
andando a 30 por hora – quando anda! Todo mundo de cara amarrada.
Pra esticar as pernas, uma
paradinha na tenda do vendedor há anos conhecido. Um caldo de cana bem gelado é
uma dádiva dos céus. Então se aproveita e se leva mais alguns queijos, salames,
cachacinha, frutas cristalizadas e alguma lembrancinha de última hora.
Enfim chega-se em casa.
Alquebrado. Vermelho como um pimentão vermelho, naturalmente, pois esquecemos
de levar protetor e como estava meio
sombrio, achamos que “não ia queimar”.
Mas queimou. E como! Em
compensação os vizinhos e conhecidos sempre nos levantam o moral: “Tá
bronzeado, hein? A praia tava maravilha, não?” Pura gozação.
A partir daí, é relaxar e esperar
pelo próximo veraneio. Sempre fica a esperança de que no ano que vem tudo vai
ser beleza. E por que não? Quem sabe!?...
* * *
Como o verão ainda vai demorar, é
melhor, a esta altura, a resignação. Sejamos realistas e encaremos com bom
humor este friozão detestável. Não nos estressemos. Por pior que ele seja, sempre
se pode evitar um estado de depressão profunda deglutindo um excelente mocotó
carregado na pimenta, ou uma feijoada – como aquela que nossas avós faziam,
lembram? – ou uma frugal polenta com linguiça, tudo regado a um delicioso vinho
tinto trazido do Vale dos Vinhedos na semana passada. Só pra deixar vocês com
inveja.
Vando
* * *
Foto minha - Capão da Canoa, RS, Fev 2013
Nenhum comentário:
Postar um comentário